Cozedura cerâmica em cova



Trata-se de uma variante mais complexa da cozedura em fogueira, mais eficaz uma vez que as paredes da cova conservam melhor a temperatura, atingindo assim valores térmicos mais elevados e estáveis. O fogo controlado e o arrefecimento mais lento reduzem, substancialmente, os riscos de fractura das peças.


Começa-se por escavar uma pequena cova na terra, com uma profundidade igual ao diâmetro, de preferência numa encosta, por ser mais fácil e por ser mais abrigada do vento quando o local é escolhido com essa atenção. Seguidamente queima-se algumas ramagens secas no interior da cova, no sentido de retirar o máximo de humidade das paredes e fundo de terra. O fundo e paredes podem ser revestidos com tijolo burro ou refractário. As primeiras peças são então cuidadosamente depositadas sobre as brasas, sendo os espaços preenchidos por material combustível leve (serradura, carvão ou palha). Quando as peças são pequenas, esta operação pode ser repetida por camadas.
Este sistema de cozedura pode ser optimizado introduzindo no interior da cova um sistema de ventilação, um tubo central, ou dois laterais, que são retirados após o preenchimento da câmara de combustão. Esta operação permite uma melhor queima do combustível do fundo, atingindo-se temperaturas mais elevadas.
Após completa a tarefa de enchimento da cova (peças e combustível), a boca é "coroada" com uma grelha de ferro onde será ateada uma fogueira, alimentada com ramos e troncos de alto poder calórico. Esta grelha irá permitir a passagem de brasas, impedindo a queda de troncos maiores que certamente quebrariam as peças. As brasas que vão caindo juntam-se ao material combustível previamente adicionado junto das peças, cobrindo-as totalmente até ser atinginda a temperatura máxima. Após terminada a cozedura, há que aguardar pelo arrefecimento das peças antes da sua extracção.
Este método de cozedura permite um controlo da atmosfera: se se pretender uma atmosfera oxidante, deixa-se o fogo extinguir de forma natural; caso se pretenda obter peças negras, a atmosfera terá que ser reduzida, cobrindo-se a fogueira com terra, de forma a impedir a entrada de ar na combustão. Desta forma a temperatura irá permanece elevada e o fogo carbonizará a argila, impedindo a oxidação dos óxidos de ferro existentes na composição das pastas.
Tal como na fogueira/soenga, este tipo de cozedura manifesta rápidas oscilações de temperatura, pelo que o tipo de argila e os elementos desengordurantes escolhidos tornam-se importantes para o sucesso da cozedura.


Acção realizada nos dias 3 e 4 de Junho de 2011, no Telheiro da Encosta do Castelo - Oficinas do Convento, em Montemor-o-Novo,
sob a coordenação de Rosana Bortolin
(Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina - Brasil)