Antigo Convento de São Francisco | Portimão

Igreja e Convento de Nossa Senhora da Esperança

Em 1530, o capitão de Azamor Simão Correia, feito vedor da Infanta D. Beatriz por D. Manuel, entrega aos Padres Observantes da Província de Portugal umas casas na margem direita do rio Arade, entre a vila de Portimão e a barra, junto à Igreja de Nossa Senhora da Esperança. Em 1533 os religiosos deixaram as casas aos padres da Província do Algarve, ano em que esta província se separou da de Portugal. Por determinação de D. João III, os Padres da província da Piedade abandonaram o seu convento de Faro, instalando-se em Portimão, demolindo as casas existentes e edificando novas construções. O ano de 1541 marca a fundação conventual, por Simão Correia, que mais tarde é sepultado com seu irmão na 1.ª casa do Capítulo do convento. A capela-mor foi mandada construir por Belchior de Mello Cunha e sua mulher D. Brites, ficando ai sepultados. À excepção da igreja, todo o edifício é demolido e reedificado por forma a adaptar-se às exigências da regra capucha. Em 1755 o terramoto causa danos consideráveis no edifício, nomeadamente na queda da abóbada da igreja, obrigando os frades capuchos a instalarem-se provisoriamente na Igreja do Corpo Santo, em Portimão. No século XIX, após a extinção das Ordens Religiosas, o convento é vendido em hasta pública por 4000$000, a José Maria Eugénio de Almeida. Serviu como depósito de cortiça e como tal sofreu um grande incêndio. Em 1911, o edificado foi arrendado a João António Júdice Fialho para o serviço da sua indústria piscatória-conserveira. A Câmara Municipal de Portimão tenta por diversas vezes adquiri-lo, tendo em vista a sua recuperação. Em 30 novembro 1993 é classificado como IIP (Imóvel de Interesse Público), pelo Decreto n.º 45/93. Em 2003, a autarquia dá início à elaboração do projecto de requalificação. Em 2006 foi ratificado em Conselho de Ministros, ainda que parcialmente, o plano de urbanização UP5 de Portimão, permitindo que a zona compreendida entre a Mariana e as duas pontes fosse urbanizada e requalificada, contemplando o convento, sendo proposto um projecto de adaptação a Hotel de Charme.

Hoje, ainda é possível observar uma interessante e muito arruinada arquitectura religiosa, manuelina e maneirista, destacando-se a igreja conventual de nave única, um portal manuelino abrigado por nártex, sobre o qual assenta o coro da igreja, semelhante ao Convento de Nossa Senhora do Desterro, em Monchique. A cobertura diferencia-se em telhados de duas águas, enquanto a planta, de cantarias de calcário e alvenaria mista rebocada, é composta pelas ruínas da igreja, a este, e por um anexo que ocupa toda a ala norte. A igreja apresenta uma planta longitudinal de dois rectângulos justapostos, correspondentes à nave única e à abside. A fachada principal, orientada, é rasgada por um arco pleno que dá acesso a uma galilé “coroada” com uma pequena janela. No interior da galilé abre-se um portal em arco polilobado, faltando-lhe o mainel que possuía originalmente, sobreposto pelo brasão de Simão Correia. No interior abre-se um claustro maneirista de dois pisos, actualmente invadido por vegetação densa. A fachada lateral é marcada por dois contrafortes.

Trabalhos arqueológicos realizados em 2008, sob a direcção de Vera de Freitas, no âmbito da Requalificação Paisagística da Envolvente Urbana do Museu de Portimão, e com o objectivo de avaliar o potencial arqueo-estratigráfico do sítio, permitiram identificar, no troço 4, uma unidade estratigráfica com materiais de cronologia romana (cerâmica de construção, cerâmica comum e de armazenamento). Estes elementos estarão presumivelmente associados aos achados romanos identificados por Estácio da Veiga a sul do convento (complexo de cetárias).

Fontes:
SIPA
Endovélico