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O mistério mais antigo da Humanidade e a "Alegoria da Caverna"

O que são 8 minutos num universo de 30 000 anos? 8 minutos que nos oferecem uma absolutamente fascinante proposta no sentido do desvendar de um dos mais antigos enigmas da Humanidade - as pinturas rupestres do Paleolítico.
O designer David Bertrand apenas precisa de 8 breves minutos das nossas "sapientes" vidas para nos propor uma perturbante hipótese de explicação.
Independentemente de todas as incertezas e desconfianças, este pode constituir um claro exemplo de que a Arqueologia deve libertar-se de clássicos preconceitos académicos e admitir contributos tão diversificados, como legítimos, de outras áreas do pensamento e do conhecimento. 

O "nosso" Passado é de todos e para todos...


Ainda a este propósito, e bem a propósito, será de recuperar a Alegoria da Caverna - parábola pela qual Platão propõe a libertação da condição de escuridão que nos aprisiona através da projecção da luz da verdade/realidade, num modelo de linguagem (quase "cinematográfica") e de educação para a formação do Estado ideal.
Para o efeito, temos de imaginar muros extremamente altos, que separam o mundo exterior de uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna vivem seres humanos, que nasceram e cresceram na escuridão e isolamento do oco cavernícola - "homens das cavernas". De costas para a entrada, acorrentados e sem poderem mover-se, são forçados a olhar apenas para a parede do fundo da caverna, onde são projectadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira.
Agora vamos imaginar que um dos prisioneiros consegue libertar-se, rodar sobre si e, tal como Siddhārtha, ao ver o muro, opta por escala-lo, escapando da caverna e descobrindo, pela primeira vez, que as sombras eram produzidas por homens como ele e que existe todo um infinito novo mundo - a realidade.
Se este liberto decidisse voltar à caverna, revelando aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que viviam, correria, segundo Platão, o risco de ser simplesmente ignorado ou até morto, tomado por um louco mentiroso.
Aplicando a alegoria à nossa actual "realidade": as sociedades e os homens encontram-se acorrentados a uma infinidade de preconceitos, paradigmas, dogmas, falsas crenças, ideias feitas e enganosas, indiferentes a realidades tão claras como a própria Natureza, inertes e incapazes de olhar para além dos muros que nos cercam, que nos são impostos por  restritas classes dominantes de outros homens. Se alguém chega e põe em causa as "verdades" das sombras filtradas e projectadas pelas fogueiras dos poderes e interesses instituídos, será desacreditado ou eliminado, como Sócrates, morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão na sua Alegoria da Caverna.

Um dos contributos desta filosófica parábola é o estimulo do senso crítico, designadamente no admitir de hipóteses alternativas e de realidades proibidas, algo que vai faltando até onde é menos suposto, por exemplo, em certas áreas do pensamento e do conhecimento, designadamente no mundo académico!


Sobre o papel da Universidade nas sociedades de hoje, Umberto Eco escreve um artigo que termina do seguinte modo:


«As universidades constituem um dos poucos lugares em que as pessoas ainda se encontram face a face, em que os jovens e os investigadores podem compreender quanto o progresso do saber precisa de identidades humanas reais e não virtuais».


Cave of Forgotten Dreams


SYNOPSIS

Following his previous documentary Encounters at the End of the World, iconic director Werner Herzog once again takes us deep behind the frontier of an extraordinary place. Having gained unprecedented access through the tightest of restrictions and overcome considerable technical challenges, he has captured on film, with specially designed 3D cameras, the interior of the Chauvet Cave in southern France. This is where the world’s oldest cave paintings – hundreds in number - were discovered in 1994. In the mesmerising Cave of Forgotten Dreams, he reveals to us a breathtaking subterranean world and leads us to the 32,000-year-old artworks. In that deeply moving moment of encounter, we come face to face with pristine and astonishingly realistic drawings of horses, cattle and lions, which for the briefest second come alive in the torchlight. In true Herzogian fashion, his hypnotically engaging narration weaves in wider metaphysical contemplations as we learn more about the Paleolithic art and its creators. Through his understated and gently humorous voiceover, we are invited to reflect on our primal desire to communicate and represent the world around us, evolution and our place within it, and ultimately what it means to be human.


Gruta do Escoural



Gruta do Escoural/Montemor-o-Novo

Santuário de Arte Rupestre Peleolítico e Necrópole Neolítica com utilização religiosa, funerária e habitacional (povoado exterior).

Descrição: A Gruta do Escoural foi descoberta em 1963 permitindo, pela primeira vez em Portugal, a identificação de vestígios de arte rupestre paleolítica. Das galerias mais recônditas dessa cavidade subterrânea ao cimo do outeiro que a envolve floresceram, ao longo dos milénios, várias civilizações pré-históricas, desde o Mustierense até fase adiantada do Calcolítico. A mais antiga ocupação humana no Escoural data de há cerca de 50 000 anos (Paleolítico Médio). Embora se possam identificar diversos temas na arte rupestre do Escoural, as representações zoomórficas, do Paleolítico Superior, especialmente de Equídeos e Bovinos são dominantes.

A Gruta desenvolveu-se pela formação de calcários cristalinos metamorfizados, constituída por uma grande sala e múltiplas galerias. Possui diversos níveis de ocupação humana: a mais antiga data de há cerca de 50.000 anos (Paleolítico Médio), tendo servido de abrigo a comunidades nómadas. No Paleolítico superior é transformada num Santuário como atestam as pinturas e gravuras com representações zoomórficas e geométricas no seu interior. No Neolítico final foi utilizada como necrópole funerária. No exterior conservam-se vestígios de um santuário rupestre neolítico, de um povoado calcolítico, e a cerca de 300 metros um tholos.

O conjunto arqueológico do Escoural, pelo largo âmbito cronológico, pela diversidade e raridade dos seus vestígios, merece ser considerado como um marco importante na paisagem, como um testemunho excepcional da história das comunidades humanas que aqui deixaram fossilizado uma parte importante do seu comportamento.

Classificação: Monumento nacional (decreto n.º 45327 de 1963)

Cronologias: Paleolítico Médio (50.000 b.p.); Paleolítico Superior; Neolítico; Calcolítico

in: http://www.cm-montemornovo.pt/pt/


Não há Fumo sem fogo...

 
Lapa do Fumo:

Gruta natural da Serra dos Pinheirinhos (Arrábida), a cerca de 200 metros de altitude e de eixo S.E.-N.W. O interesse arqueológico foi despertado em 1956 por E. da Cunha Serrão que veio a orientar várias campanhas de escavação no local. Em 1964 as investigações foram partilhadas com o arquitecto Gustavo Marques e José Eduardo Morais Arnaud. Os resultados da investigação revelaram níveis do Neolítico ao período Muçulmano, destacando-se enterramentos do Neolítico Final e uma ocupacão do Bronze Final com cerâmica de ornatos brunidos.

Bibliografia:

SERRÃO, Eduardo da Cunha (1973) – Carta Arqueológica do Concelho de Sesimbra (desde o Paleolítico antigo até 1200 d.C.). Setúbal: Junta Distrital de Setúbal.

Parque Arqueológico do Vale do Côa/Ribeira de Piscos



O vale do rio Côa constitui um local único no mundo por apresentar manifestações artísticas de ar livre inseríveis em diversos momentos da Pré-História e da História, nomeadamente o maior conjunto de figurações paleolíticas de ar livre até hoje conhecidas.



Embora seja provável que o prosseguimento da investigação venha a revelar outros ainda desconhecidos, os conjuntos de gravuras e pinturas rupestres mais importantes até agora identificados no vale do Côa são os de Canada do Inferno, Ribeira de Piscos, Penascosa, Quinta da Barca, Fariseu e Faia. Estes núcleos apresentam gravuras de animais datáveis do Paleolítico e, na Ribeira de Piscos, uma figura humana da mesma época. No sítio da Faia existem pinturas de animais e seres humanos do Neolítico ou Calcolítico e em Orgal há rochas com gravuras da mesma época e também da Idade do Ferro. Na Canada do Inferno há ainda representações religiosas e populares recentes, executadas entre o século XVII e os anos 50 do século XX. Estes núcleos situam-se todos eles junto às margens do rio Côa ou dos seus afluentes, em áreas de afloramentos xistosos, à excepção da Faia, que se localiza numa zona granítica.
Existem ainda diversos núcleos de gravuras em pequenos vales da margem esquerda do Douro. São exemplo o do Vale da Casa, já estudado no início da década de 80, antes da sua submersão pela construção da barragem do Pocinho, e ainda os de Vermelhosa, Vale de Cabrões, Vale de José Esteves e Vale do Forno. Nestes conjuntos estão particularmente bem representados motivos filiformes da Idade do Ferro, nomeadamente figuras de cavaleiros com cabeças de pássaros empunhando lanças e espadas. Nalguns, nomeadamente na Vermelhosa e em Vale de Cabrões, têm também sido encontradas gravuras filiformes paleolíticas.
Quase desde que nasce, na Serra da Malcata, perto do Sabugal, até que desagua no Douro, alguns km a montante do Pocinho, o rio Côa corre, de sul para norte, ao longo de um vale extenso e profundamente encaixado. Na sua parte final, já perto da foz, a respectiva bacia hidrográfica está limitada a nascente pela ribeira de Aguiar e a poente pelas ribeiras de Centieira e do Vale da Vila. Na margem direita, o relevo atinge altitudes entre os 400 e os 800 metros; na margem oposta, esses valores são menores, oscilando entre os 100 e os 500 metros.
A foz da ribeira de Piscos marca a transição entre as encostas suaves por entre as quais o Côa flui desde a Quinta da Barca e o vale profundamente encaixado que percorre até à confluência com o Douro.

Um elemento típico da paisagem são as formas rochosas - de xisto no curso do Côa entre Santa Comba e o Douro, de granito mais para montante - que o coberto vegetal rasteiro ou aberto facilmente deixa entrever. A erosão actua sobre essas rochas de maneira distinta. As acumulações espaçadas de grandes blocos arredondados são características dos planaltos graníticos, cortados por linhas de água muito encaixadas. Nas áreas xistosas, são comuns as grandes superfícies escarpadas verticais que, nos fundos, alternam por vezes com amplas praias fluviais.
Menos numerosas do que na Canada do Inferno, as figuras aqui encontradas contam-se entre as mais conhecidas gravuras do Côa. No fundo do vale, junto à ribeira, está o painel da cena que representa dois cavalos de cabeça enlaçada; numa rocha ao lado está uma figura humana sobreposta a um auroque desenhado em gravado estriado (contorno gravado por incisão fina, cabeça e corpo preenchidos com numerosos traços de técnica idêntica). A cota mais elevada encontra-se ainda outro painel de gravuras filiformes representando quatro cavalos de cronologia paleolítica representados com grande realismo, num estilo que evoca a arte do final do Paleolítico superior.


Filiformes

As duas fases da gravação: 1.ª picotado/picado; 2.ª polimento do traçado
Pintura antropomórfica - "orante"
O "Homem de Piscos" com glande ejaculadora
Os critérios que permitiram datar este vasto conjunto artístico foram vários. No caso do Paleolítico superior (que, em Portugal, corresponde ao período compreendido entre cerca de 30 mil e cerca de 10 mil anos antes do presente), recorreu-se em primeiro lugar à identificação das espécies figuradas. O cavalo e o auroque (o antepassado selvagem dos actuais bois domésticos), omnipresentes no Côa, são também as espécies muito importante na arte parietal paleolítica das grutas franco-cantábricas. O outro animal mais frequentemente representado nas grandes gravuras picotadas do Côa é a cabra montês, facilmente reconhecível pelos seus cornos de ponta torcida, por vezes representados sob a forma de um S alongado. Actualmente, a distribuição da cabra montês está restringida às zonas de maior altitude do interior da Península Ibérica, embora, em Portugal, fosse muito comum no Paleolítico superior, devido ao clima mais frio e seco então vigente, que propiciou o desenvolvimento nas regiões montanhosas de baixa altitude das paisagens abertas de mato rasteiro crescendo entre maciços de rochas escarpadas que constituem o seu habitat preferido.
As espécies da fauna eurosiberiana adaptadas ao frio, como a rena, o bisonte, o rinoceronte lanígero ou o mamute, não se encontram na arte do Côa; porém, esse facto não é de estranhar, pois, ao contrário do que se passa com o cavalo, o auroque e a cabra montês, também não foram encontrados restos dessas espécies em nenhuma das jazidas arqueológicas do Paleolítico superior conhecidas em Portugal e no sul de Espanha.

Parque Arqueológico do Vale do Côa/Penascosa

Pouco mais de um quilómetro para montante, mas na margem oposta, situa-se o sítio da Penascosa. Nesta zona de vale mais aberto o rio forma uma praia relativamente extensa, cujas areias poderão estar a tapar mais rochas gravadas para além das que já são conhecidas. A topografia do local é propícia ao estabelecimento de acampamentos, e deve ter sido em tal contexto de habitat que tiveram lugar as actividades artísticas aqui documentadas. Porém, as escavações realizadas revelaram a ausência de níveis arqueológicos que comprovassem tais ocupações, os quais devem ter sido erodidos no início do Holocénico (o período geológico em que vivemos actualmente). Os depósitos fluviais actualmente observáveis no fundo do vale são relativamente recentes, a sua parte superior tendo sido acumulada apenas no decurso do último milénio.
Boa parte dos suportes das gravuras parece estar num estado adiantado de fragmentação. Uma vez que há diversos exemplos de gravuras desenhadas de modo a aproveitar os espaços definidos pelos blocos fragmentados, pode deduzir-se que seria já esse o aspecto das rochas no Paleolítico, quando foram gravadas. Tal como na Canada do Inferno, todas as figuras conhecidas foram feitas sobre as superfícies verticais criadas pela clivagem dos xistos. Para além dos painéis mais conhecidos, com gravuras executadas por picotagem e por abrasão, foram recentemente descobertas algumas rochas profusamente gravadas com motivos filiformes.

Embora a representação de cavalos e cabras no mesmo painel pareça ser a forma mais frequente de associação entre diferentes espécies animais, a associação cavalo-auroque, típica da arte paleolítica, está igualmente bem documentada. Entre os motivos representados contam-se também alguns signos e peixes. Particularmente interessante é o facto de serem comuns as representações em que o artista procurou transmitir a ideia de movimento. Um dos melhores exemplos disso é uma possível cena de acasalamento em que uma égua é coberta por um cavalo cujas três cabeças procuram, tal como se faz na moderna banda desenhada, transmitir a ideia de um movimento descendente do pescoço.