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Castelo do Alferce | Monchique

Muralha de aparelho "em espinha"
Cisterna
Materiais cerâmicos da Idade do Bronze
Povoado de altura da Idade do Bronze, manifestando uma aparente continuidade de ocupação, pelo menos até ao período emiral, com uma função de hisn-refúgio no início da época islâmica. A área de implantação organiza-se em dois recintos principais: o castrum ou reduto central, de planta quadrangular, cuja origem provável deverá fixar-se na antiguidade tardia, situado na zona mais elevada da plataforma, no interior da qual se localiza uma cisterna; e um recinto constituído por uma muralha de pedra, em mau estado de conservação, provavelmente do Bronze Final, directamente construída sobre o substrato rochoso.

«Implantado num cabeço no limite oriental da Serra de Monchique, com uma altura máxima de 488 metros e com uma área total com pouco mais de dois hectares, este sítio arqueológico possui boas condições naturais de protecção e uma ampla visibilidade sobre o actual território algarvio e do Baixo-Alentejo. Para além disso, encontra-se na proximidade a dois importantes cursos de água da região, as ribeiras de Monchique e de Odelouca (as “auto-estradas da antiguidade”), que efectuam a ligação entre a zona serrana e o litoral. O sítio em que este povoado está implantado é, sem dúvida, um ponto central e um marco na paisagem envolvente.
Este sítio arqueológico é conhecido desde há muito tempo pelos habitantes da freguesia do Alferce, tendo em conta que muitos “curiosos” encontraram neste sítio e na sua envolvente diversos vestígios arqueológicos ao longo dos tempos (FORMOSINHO et al., 1953: 159-162; GASCON, 1955: 38 e 48).
Este sítio arqueológico foi alvo de uma intervenção arqueológica, efectuada em 2004 junto ao hisn muçulmano existente no topo do povoado, não se tendo detectado quaisquer materiais arqueológicos anteriores à época visigótica (séculos V-VIII d.C.). No entanto, é salientada a reocupação em época visigótica de um povoado de altura atribuído à Idade do Bronze (Final), sucedendo-se uma ocupação islâmica entre os séculos IX e X – sendo depois abandonado (MEULEMEESTER et al., 2006: 276-278).
As intervenções arqueológicas (prospecções e escavações) efectuadas neste povoado incidiram, sobretudo, no seu topo, junto ao hisn muçulmano onde a falta de materiais pré-históricos e/ou proto-históricos é compreensível, pois esta foi a área que aparenta ter sido mais afectada durante a ocupação visigótica e muçulmana , e somente uma pequena parte, que não contemplou escavações arqueológicas, incidiu nas muralhas e noutras partes da área intra-muros. Em todo o caso, são apontadas duas ocupações claramente distintas, sendo uma relacionada com os povoados de altura da Idade do Bronze (Final), e uma outra relacionada com os castra de época visigótica e, durante a Alta Idade Média, com os muçulmanos (MAGALHÃES, 2008: 172-173).
Embora seja apontada uma ocupação desde a Idade do Bronze (Final) até à Alta Idade Média para este povoado, como que um “palimpsesto” arqueológico, os dados relacionados com a plausível ocupação da Idade do Bronze são muito escassos, pois este sítio nunca foi intervencionado com o intuito de se atestar a sua ocupação mais antiga, nem a sua diacronia de ocupação.
Relativamente à Idade do Ferro, desconhecem-se quaisquer vestígios arqueológicos provenientes deste sítio. No entanto, existe uma referência que menciona que este sítio corresponde a um povoado fortificado e que se insere na Idade do Ferro (PASSOS, 1989: folha correspondeste à CMP nº 578/3, nº 1). Todavia, um investigador apresentou alguns dados relacionados com uma provável ocupação pré-romana neste sítio arqueológico, provenientes de uma prospecção não intensiva fragmentos de vasos globulares modelados à mão e típicos da Idade do Bronze (CATARINO, 2001: 34; MEULEMEESTER et al., 2006: 263).
Neste sítio arqueológico, para além de se vislumbrarem as ruínas de um hisn muçulmano no seu topo com muralhas pétreas que rondam os dois metros de espessura, que configuram um fortim de planta sub-quadrangular, ou pentagonal irregular, que ocupa uma área de 1400m2 e que possui, pelo menos, duas torres de ângulo (nos cantos nordeste e noroeste), assim como uma cisterna no seu interior , possui evidências de mais dois recintos amuralhados (MEULEMEESTER et al., 2006: 266-268). 
O segundo recinto define uma área habitacional situada a norte do reduto central (hisn), enquanto o terceiro recinto rodeia todo o cabeço e está adaptado à topografia do terreno, estabelecendo uma área alongada orientada no sentido norte-sul com aproximadamente 2,1 hectares (Ibidem: 265; MAGALHÃES, 2008: 172-173).
Este terceiro recinto amuralhado possui uma espessura que ronda os três metros, sendo composto por blocos de sienito que apresentam diferentes dimensões e que estão ligados entre si por barro de grão fino, salientando-se que na zona oeste (junto ao actual caminho de acesso) e em direcção a sul é onde está melhor preservado, atingindo uma altura de cerca de um metro (MEULEMEESTER et al., 2006: 265 e 278). Poderá ser de origem proto-histórica, nomeadamente na sua metade superior, mas terá sofrido grandes alterações e restauros durante as ocupações posteriores. 
A presença de muralha na zona virada a nascente, onde o próprio declive da encosta (com cerca de 380 metros até ao fundo do vale da ribeira de Monchique) seria suficiente para proteger o sítio de incursões inimigas, mostra uma intencional delimitação e definição do espaço ocupado (Ibidem: 265-266).
As vertentes oeste e sul seriam as mais acessíveis e, de facto, são as que possuem evidências da muralha ser mais robusta. Importa salientar que a zona norte do povoado carece ainda de investigação, devido à elevada concentração de vegetação densa, nomeadamente de eucaliptos, sublinhando-se a falta de investigação continuada neste sítio cuja potencialidade arqueológica é bastante elevada e pode contribuir para um melhor conhecimento das dinâmicas do povoamento proto-histórico (e talvez também pré-histórico) da Serra de Monchique e do Algarve.
Actualmente este sítio arqueológico encontra-se em vias de classificação (com despacho de abertura), salientando-se que está abrangido em Zona Especial de Protecção (ZEP).»


CAPELA, F. (2012) – Contributos para o conhecimento da Pré-história Recente e da Proto-história da Serra de Monchique. Dissertação de Mestrado apresentada á faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Coimbra: FLUC, p. 27-31.


Em 2013, a Portaria n.º 429-A/2013 classifica o Castelo do Alferce como Sítio de Interesse Público, revestindo o arqueossítio de protecção máxima. 

Castelo de Aljezur

A ocupação mais remota, no Cerro do Castelo de Aljezur, corresponde a um povoamento dos finais da Idade do Bronze, datado de há cerca de 3000 anos, atestado por materiais cerâmicos conservados em nível, pouco espesso e descontínuo, assente sobre o substrato rochoso.

Posteriores sondagens arqueológicas realizadas, em 2004, no talude poente, identificaram um muro de pedra, associado a materiais da Idade do Ferro, cuja construção aparenta ser anterior à muralha medieval, o que nos permite colocar a hipótese da continuidade da ocupação e o facto da existência de uma estrutura defensiva, sobre o cerro, poder recuar ao período proto-histórico. O referido troço da muralha da Idade do Ferro não é visível, por se ter optado pelo seu reenterramento, sendo a sua localização demarcada na sinalética.
Para o Período Romano-Republicano o espólio arqueológico, para além de produtos locais, registou produtos importados, provavelmente de origem itálica, como cerâmicas finas de mesa, de engobe negro e lustroso, de tipo campaniense, e ânforas vinárias, dos séculos II-I a.C.

Seguiu-se um período de abandono.
A presença humana retornou ao topo do cerro do castelo no Período Islâmico, cronologicamente balizado entre o século VIII e a primeira metade do XIII, registando-se arqueologicamente duas fases de ocupação. A primeira atestada por alicerces de alvenaria que sustentavam muros de taipa pertencentes a habitações que eram por vezes lajeadas. Foram ainda descobertos silos escavados, no solo, que permitem inferir a função de armazenamento de alimentos associada a esta época. A cisterna igualmente está associada a este período.
A partir de fins do século XV a ocupação com fins de povoamento nunca mais ocorreu no topo do cerro do castelo. Os achados arqueológicos, particularmente as cerâmicas, que surgiram em contexto de lixeira, no topo do enchimento das estruturas tardomedievais, comprovaram o definitivo abandono do sítio.
Hoje o Castelo de Aljezur encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público.

Fonte DRCA
 
 
 
 
 



Visita ao Castelo de Aljezur 
sob a orientação do Arqueólogo 
Rui Parreira 
Direcção Regional de Cultura do Algarve
(31.08.2013)

A Arrábida no Bronze Final - a Paisagem e o Homem

Depois de 5 anos a "trabalhar para o Bronze"...


Resumo
Muito genericamente, o presente trabalho pretende produzir uma análise de questões relacionadas com as estratégias de povoamento das comunidades que habitaram o(s) território(s) da Serra da Arrábida no decorrer do período histórico convencionalmente denominado de “Bronze Final”. A investigação focou-se nas áreas da Serra da Arrábida e da Serra do Risco, estendendo-se, para poente, até às serras dos Pinheirinhos e da Azóia, na plataforma do Cabo Espichel, e, para nascente, até à “Pré-Arrábida”, dominante sobre a foz do Sado. Para o efeito, a Arrábida (Península de Setúbal) foi entendida como um território definido e circunscrito, a norte, pelo Tejo, a sul, pelo Sado, e, a oeste, pelo Oceano; um território de charneira entre o Atlântico e o Mediterrâneo, entre o Norte e o Sul, entre o litoral e o interior; um excepcional ponto de convergência de linhas naturais de transitabilidade (terrestres, fluviais e marítimas), reunindo um conjunto de particularidades geográficas que, associadas às suas excelentes condições naturais de defesa, acessibilidade e abrigo de costa, à disponibilidade dos seus recursos hídricos, marinhos e cinegéticos, e fertilidade dos seus vales, proporcionaram um edénico quadro, em termos de fixação humana, e ao longo da história, particularmente no decurso do Bronze Final. Isto, sem contar com a dimensão estética das paisagens da Arrábida, aspecto que talvez não tenha sido indiferente às comunidades que, em épocas antigas por aqui se instalaram. Posto isto, impôs-se estabelecer um “ponto da situação”, a partir da bibliografia produzida até à data, reconhecendo e coligindo os parcos dados disponíveis e apresentando uma resenha histórica da investigação que lhes subjaz. Para um melhor entendimento do período em causa, e complementarmente, procedeu-se, de forma genérica, a um esboço da sua génese e evolução no âmbito da bibliografia arqueológica europeia, destacando-se as principais questões de ordem teórica e metodológica. Neste seguimento, face à escassez de dados regionais, foi inevitável procurar eventuais paralelos e/ou avaliar as diferenças relativamente a modelos de ocupação traçados para outras áreas, com particular atenção para o Sudoeste Peninsular. Tratando-se de um tema muito pouco estudado, mas onde já afloravam contextos arqueológicos particularmente sugestivos (o monumento funerário da Roça do Casal do Meio, o povoado do Castelo dos Mouros e algumas grutas), entendeu-se pois oportuno avançar com um trabalho de síntese, complementado pelas novidades emergentes das cartas arqueológicas de Sesimbra (2007-2009) e de Setúbal (2010-2013), projectos integrados pelo signatário na qualidade de arqueólogo, espeleólogo e fotógrafo, e que têm permitido ampliar significativamente a base de dados relativa a algumas facetas da questão. A hora ainda não nos permite obter uma perspectiva, sincrónica e de “curta duração”, do povoamento na Arrábida ao longo do 2.º e 1.º milénios a.C. Ainda assim, facto é que a Arrábida afigura-se hoje como um interessante “iceberg de Bronze”, no qual se pode descortinar uma florescente e vigorosa cota emersa no horizonte cultural da última fase da Idade do Bronze do Sul da Estremadura. A avaliação global dos dados disponíveis, acerca do povoamento e sobre o território, sugere, por um lado, uma forte articulação com as vias de comunicação marítimas e fluviais e, por outro, a possibilidade de estarmos perante uma unidade política coerente num território específico e individualizado.
Palavras-chave: Arrábida, Sado, Paisagens, Presença Humana, Bronze Final, a Vida e o Sagrado, Santuários Naturais, Navegações, Sal.

Abstract
The object of this work is to analyse some issues regarding the settlement strategies of the communities that once inhabited the territory(-ies) of Serra da Arrábida (Setúbal/Sesimbra, Portugal) during the period in History conventionally called the “Late Bronze Age”. The research work focused on two main areas – Serra da Arrábida and Serra do Risco – but it also extended to the west, covering the areas of Pinheirinhos and Azóia (both elevations located on the plateau of Cabo Espichel), and to the east, covering what is called the “Pre-Arrábida”, overhanging the mouth of river Sado. For the purpose of this work, Arrábida (on the Portuguese peninsula of Setúbal) comprises a well-defined territory, limited to the north by the river Tagus, to the south by the river Sado and to the west by the Atlantic ocean; a strategically placed territory, a frontier between the Atlantic and the Mediterranean, North and South, coastline and inland; an exceptional location where all natural routes converge (land, river and sea). This incredible set of geographical peculiarities, in association with excellent natural means of defence, accessibility and shelter, the abundance of water, fishing and game resources, as well as the fertility of the valleys, constituted a perfect setting for human settlement throughout history, and must have been particularly appealing during the Late Bronze Age. An additional aspect that perhaps did not escape the attention of the communities that chose to settle down in Arrábida in ancient times is the great beauty of this magnificent landscape. In light of all this, it was imperative to establish a “state of the art”, based on the bibliography and data available, in order to collect and acknowledge the scarce information, as well as to make an historical summary of the research work involved. To give a better understanding of that period, this work includes a generic and complementary summary of its genesis and evolution in the scope of European archaeological bibliography, highlighting the main theoretical and methodological issues. Next, and given the scarcity of regional data, it was inevitable to look for possible parallels and/or to evaluate the differences regarding settlement models already established for other areas, particularly for the Southwest of the Iberian Peninsula. Although this subject has not been the object of many studies, several very suggestive archaeological sites have come up, namely, the funerary monument of Roça do Casal do Meio, the settlement at Castelo dos Mouros, and some caves). Therefore, it seemed appropriate to present a summary of these sites, while at the same time complementing it with new data uncovered during the field work done for the archaeological surveys of Sesimbra (2007-2009) and Setúbal (2010-2013), two projects that contributed to increase quite significantly the existing database regarding some of the issues in discussion and in which the author participated as archaeologist, speleologist and photographer. For the time being, it is still not possible to have a synchronic short-term perspective of the settlement in Arrábida throughout the 2nd and 1st millenniums BC. Nevertheless, Arrábida is seen today as an interesting “Bronze iceberg”, a place that holds tremendous promise, because beneath its waterline there seems to be a strong and flourishing source of material which will enrich the cultural horizon of the final period of the Bronze Age. The overall data assessment regarding settlement and territory suggests a strong articulation with communication routes along watercourses or sea, as well as the possible existence of a coherent political unit within a specified and contained territory.
Key words: Arrábida, Sado, Landscapes, Human presence, Late Bronze Age, Life and Sacred, Natural Sanctuaries, Navigation, Salt.

Presentation




Castro de Castelo Velho de Lucefecit

Alandroal Terena São Pedro
Povoado fortificado, com cerca de 1 ha de área útil, ocupado em diferentes épocas desde o III milénio a.C., até ao século X da nossa Era. Tudo indica, efectivamente, que houve longos períodos de abandono, dos quais o mais evidente, no estado actual da investigação, foi o que decorreu entre o final da Idade do Ferro e a ocupação Islâmica (cerca de mil anos).

O sítio apresenta uma defensabilidade excepcional, uma vez que o acesso era viável apenas pelo lado Oeste, por um caminho estreito, de cuja utilização se conservam traços na rocha xistosa; os outros lados contam com vertentes muito inclinadas, delimitadas na base pelo Rio Lucefecit e por um pequeno afluente. Em contrapartida, a visibilidade sobre o território envolvente é relativamente escassa, uma vez que em redor do povoado se elevam cabeços com maior altimetria. No terço superior do declive, em todo o perímetro do povoado, observa-se um talude onde afloram vestígios relativamente bem conservados de muralhas de xisto. O aparelho defensivo apresenta diversas fases construtivas, com técnicas e plantas bastante diversificadas.

No sopé da vertente Norte abre-se uma pequena galeria irregular, artificialmente afeiçoada, conhecida como a "Casa da Moura"; pode tratar-se quer de uma sondagem de mineração quer de um espaço ritual, com paralelos nos “santuários” etnográficos frequentes na região, cuja caracterização comum é a existência de uma cavidade na rocha e que a tradição popular atribui sistematicamente às mouras encantadas.

Numa pequena elevação coroada por uma formação rochosa de forma vagamente antropomórfica, junto da presumível entrada principal do povoado, regista-se a presença de cerâmicas, escórias de fundição e restos de estruturas. A tradição popular considera este local, denominado “Pedra do Charro”, a sepultura de um bandoleiro lendário, o Charro, enterrado com todas as suas riquezas. De facto, pode tratar-se de uma área se habitat marginal, nomeadamente o local das actividades metalúrgicas, numa determinada época do povoamento. Pode tratar-se também de uma necrópole relacionada com o povoado, o que daria algum fundamento à tradição local.
"Pedra do Charro" 
Acesso
José Leite de Vasconcellos, publica em 1895, no Vol. I de O Arqueólogo Português, (p. 212-213), uma breve notícia onde descreve com algum pormenor o “Castelo Velho” após a sua visita ao local – O insigne arqueólogo não deixou de relacionar este povoado e o do Castelinho com o santuário de Endovélico em São Miguel da Mota, localizado a cerca de 1.500 m em linha recta, admitindo que «esse santuário pertenceria a uma das referidas povoações, ou a ambas» (Vasconcellos, 1885, p. 213).

O Castelo Velho foi classificado como Monumento Nacional por decreto de 16.06.1910, sendo o único sítio arqueológico classificado no concelho do Alandroal.

 in Carta Arqueológica do Alandroal 
(Calado, M., 1993, p, 63-64)

Em suma, e por outras palavras:

Está à face do Lucefecit
Um castelo feito pelos Mouros
A muita gente lhe parece
e dizem que há ali tesouro

Tem mais de cinquenta metros de altura 
E o cimo forma quadrado
Feito em terra bem rampado
E com mais ou menos de largura
Isto é verdade pura
Não é coisa que alguém dissesse
De muito lado aparece
Não sou só eu que o digo
Mas há um monumento antigo
À face do Lucefetit

Aí uns cem passos ou mais
Tem uma pedra ao lado
Onde o Charro foi sepultado
Ou os seus restos mortais
Vieram da Câmara os sinais
Essa notícia nos poram
Dizem que eles é que foram
Que está escrito na história
Mas aqui está de memória
Um castelo feito pelos Mouros

A muitas pessoas que ali vão
Mete o seu respeito e medo
Está um buraco num rochedo 
Onde era a habitação
Viveram debaixo do chão 
Que é a demostra que parece
É caso que ninguém conhece
Para que foi a fortaleza
Mas dizem que há ali riqueza
E a muita gente lhe parece

Décimas dedicadas ao Castelo Velho
(in Carta Arqueológica do Alandroal 
Calado, M., 1993)
Noutra época mais atrasada
A homens antigos ainda ouvi
Diziam que aparecia ali
Uma moura encantada
Mas quando esteja a ser tirada
Diz que aparece um preto touro
Onde está o diamante e o ouro
Só se tira à meia noite 
Mas não há ninguém que se afoite
E dizem que há ali tesouro

Dionísio António Rita - poeta popular
"Casa da Moura"
Na visita ao Castelo Velho ainda pode contar com um outra preciosidade, desta feita etnográfica: o Moinho do Setil
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Rocha da Mina

Alandroal | Terena | São Pedro

Santuário da Idade do Ferro, "talhado" num expressivo esporão xistoso de vertentes abruptas, com cerca de 12 metros de altura. O rochedo impõe-se altivo na Ribeira de Lucefecit, obrigando-a a contornar a sua dureza, produzindo um meandro a caminho do Guadiana. Na estrutura geológica foram talhados degraus, construídos muros e organizados pavimentos, elementos recorrentes em santuários pré-romanos, alguns dos quais romanizados, sendo comummente interpretados enquanto altares destinados a sacrifícios.

Presumivelmente, o "rochedo (con)sagrado" da Mina terá sido palco de cultos dedicados ao deus pré-romano Endovellicus. Em época romana, esta divindade indígena acaba por integrar o panteão dos deuses hispânicos, concorrendo em importância com o próprio Iupiter. Um dos indícios desta inversa aculturação encontra-se no cume do outeiro de São Miguel da Mota, a cerca de 3 km da Rocha da Mina, onde terá sido edificado um templo romano, em mármore branco, no qual os romanos (e os indígenas romanizados) cultuaram o deus local Endovélico, num verdadeiro fenómeno de "transladação" do culto de um santuário natural para um santuário construído.



No período estival de 2011-2012, o arqueossítio foi alvo de escavações dirigidas pelo arqueólogo Rui Mataloto. Os trabalhos têm vindo a revelar uma área habitacional na plataforma inferior, junto do santuário, com cinco compartimentos estruturados entre si e delimitados, a nascente, pela presença de um afloramento rochoso e/ou de uma muralha. Na plataforma superior (no santuário propriamente dito) escavou-se os restos de estratigrafia existentes sobre a rocha e o interior do "poço". Os vestígios de ocupação remetem para cronologias da 1.ª e 2.ª Idade do Ferro e do Período Romano Republicano. O conjunto artefactual permitiu ainda atestar a absoluta contemporaneidade entre as ocupações documentadas em ambas as plataformas. 

Recorde-se que em 1995 o sítio recebeu as primeiras sondagens arqueológicas dirigidas por Manuel Calado, intervenção que permitiu identificar a zona de carácter habitacional, complementar à área especificamente ritual do santuário.