A conserva por salga de peixe e a produção de garum constituíram, certamente, uma das indústrias mais activas do Portugal romano, particularmente nos estuários do Sado e Tejo, Sines e Pessegueiro e na costa algarvia. A larga produção e raio de circulação do garum produzido na Lusitania “portuguesa” foram comprovados por uma ânfora encontrada em Vindolanda, na Muralha de Adriano (Inglaterra), e por alguns exemplares de tipo Dressel 14 verificados nos naufrágios de Cap Bénat e Conillera, em Ibiza (Alarcão, 1988).
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O complexo industrial de Tróia terá começado a laborar já numa fase de estabilidade do processo de ocupação romana, provavelmente durante a dinastia dos Júlios-Cláudios (inícios do séc. I d.C.). O seu abandono verificou-se por volta do século VI d.C., encontrando-se já em irreversível decadência a partir do séc. IV. A desagregação do império levou à progressiva deterioração das rotas comerciais e dos mercados consumidores – o processo de ocupação de Tróia está intimamente associado à própria história política do Império Romano.
Tróia não foi um ponto isolado no Ocidente europeu, na verdade, este centro conserveiro fazia parte de uma complexa cadeia comercial que, centrada no Mar Mediterrâneo (Mare Nostrum), garantiu o fornecimento de produtos e iguarias do mar a todos os grandes núcleos populacionais do Império, incluindo a própria cidade de Roma.
Na margem direita do Sado, a montante e a jusante de Setúbal, entre a Mitrena e o Portinho da Arrábida respectivamente (passando ainda por Sesimbra), são numerosos os vestígios identificados de cetárias . Os tanques de salmora, designados de “cetárias”, são estruturas impermeabilizadas com opus signinum – argamassa de revestimento à base de cal e inertes (areia, cascalho e cerâmica triturada) – o mesmo revestimento utilizado nas piscinas e arquitecturas termais.
As ruínas do agregado populacional de Tróia compreendem uma área habitacional com algumas domus, aparentando alguma sumptuosidade bem patente nos mosaicos em opus vermiculatum e estuques com pintura a fresco. A “villa” industrial era servida por um balneário com vestibulum, frigidarium, tepidarium e caldarium sobre hipocaustum, piscinas e sala de ginástica.
Foram identificadas quatro áreas de enterramento: sepulturas sobrepostas numa altura de 7 m na margem da Caldeira (lagoa interior); a sepultura de incineração de Galla; um mausoléu de planta quadrada com nichos abertos nas paredes para guardar urnas cinerárias; sepulturas de superstrutura quadrangular.
O culto tinha lugar num núcleo religioso sedeado na basílica paleo-cristã de quatro naves, com vestígios de 8 bases de colunas e de arranques de arcadas transversais. Paredes estucadas e pintadas com frescos, marmoreados, elementos geométricos e emblemáticos. Do baptistério, documentado por Inácio Marques da Costa, já nada resta nos dias de hoje. De acrescentar, ainda, um columbário.
A história do Sado e de Setúbal está desde sempre intimamente associada à produção de sal. Um estuário que reúne um conjunto de características de excepcional qualidade para a produção deste bem essencial. Uma baia atlântica que associa a qualidade e pureza das suas águas a um óptimo clima mediterrâneo, condições essenciais para uma correcta cristalização desta iguaria.
Além da vital função, o sal é essencial para actividades como a conservação de bens alimentares, produção de queijo e tratamento de peles. A abordagem arqueológica desta actividade esporádica é muito difícil, falamos de estruturas construídas em materiais perecíveis que ocupam zonas estuarinas de grande dinâmica de correntes e marés e que pouco após a sua exploração desaparecem praticamente sem deixar vestígios para o registo arqueológico.
A riqueza e diversidade dos recursos piscícolas do estuário do Sado e da sua frente atlântica, bem como a sua consequente exploração, encontram-se bem comprovadas no registo arqueológico, nomeadamente pela ocorrência de arpões e anzóis de bronze, utilizados em artes piscatórias. Entre os anzóis predominam os de patilha e farpa de grandes dimensões, naturalmente adequados à captura de espécies de profundidade, tanto numa pesca de linha como de espinel (aparelho). Além destes, de referir a ocorrência de agulhas de coser redes, cepos de âncora, âncoras líticas e pesos de rede em barro.
Além da vital função, o sal é essencial para actividades como a conservação de bens alimentares, produção de queijo e tratamento de peles. A abordagem arqueológica desta actividade esporádica é muito difícil, falamos de estruturas construídas em materiais perecíveis que ocupam zonas estuarinas de grande dinâmica de correntes e marés e que pouco após a sua exploração desaparecem praticamente sem deixar vestígios para o registo arqueológico.
A riqueza e diversidade dos recursos piscícolas do estuário do Sado e da sua frente atlântica, bem como a sua consequente exploração, encontram-se bem comprovadas no registo arqueológico, nomeadamente pela ocorrência de arpões e anzóis de bronze, utilizados em artes piscatórias. Entre os anzóis predominam os de patilha e farpa de grandes dimensões, naturalmente adequados à captura de espécies de profundidade, tanto numa pesca de linha como de espinel (aparelho). Além destes, de referir a ocorrência de agulhas de coser redes, cepos de âncora, âncoras líticas e pesos de rede em barro.
Mó circular
Bibliografia:
ALARCÃO, Jorge – O Domínio Romano em Portugal – Lisboa, 1988
COSTA, A. Marques da – Estudos sobre algumas estações da época luso-romana nos arredores de Setúbal – in O Arqueólogo Português, vol. 26, Lisboa, 1924; vol. 27, Lisboa, 1929; vol. 29, Lisboa, 1933
MAYET, Françoise; SILVA, Carlos Tavares da – Fenícios e Romanos no vale do Sado – Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal/Assembleia Distrital de Setúbal, 2005
SILVA, Carlos Manuel Lindo Tavares da; CABRITA, Mateus Gonçalves – O problema da destruição da povoação romana de Tróia de Setúbal – in Revista de Guimarães, vol. 76, Guimarães, 1966.
SILVA, Carlos Manuel Lindo Tavares da; SOARES, Joaquina – Arqueologia da Arrábida – Parques Naturais, Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, 1986.
SOARES, Joaquina – Estação romana de Tróia – Grândola, 1980.
COSTA, A. Marques da – Estudos sobre algumas estações da época luso-romana nos arredores de Setúbal – in O Arqueólogo Português, vol. 26, Lisboa, 1924; vol. 27, Lisboa, 1929; vol. 29, Lisboa, 1933
MAYET, Françoise; SILVA, Carlos Tavares da – Fenícios e Romanos no vale do Sado – Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal/Assembleia Distrital de Setúbal, 2005
SILVA, Carlos Manuel Lindo Tavares da; CABRITA, Mateus Gonçalves – O problema da destruição da povoação romana de Tróia de Setúbal – in Revista de Guimarães, vol. 76, Guimarães, 1966.
SILVA, Carlos Manuel Lindo Tavares da; SOARES, Joaquina – Arqueologia da Arrábida – Parques Naturais, Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, 1986.
SOARES, Joaquina – Estação romana de Tróia – Grândola, 1980.