Uma Cidade 2 Fotógrafos


 
Portimão | Júlio Bernardo (1916) & Francisco Oliveira (1918)

Exposição
Museu de Portimão
17.12.2011 - 29.04.2012

"Através da fotografia, Júlio Bernardo e Francisco Oliveira, fixaram instantes da vida quotidiana de Portimão, devolvendo-nos as imagens do seu olhar atento a esse constante movimento que, desde a década de 50 até finais dos anos 70 do século XX, foi construindo e moldando a cidade, o particularismo dos seus espaços e as formas da sua paisagem humana."


Obrigado!

A Fenda da Arrábida


A Fenda constitui um “geomonumento” de rara beleza natural, há muito conhecido, mas sem informação arqueológica publicada (no prelo). A verticalidade e dureza das suas paredes tem proporcionado uma verdadeira Meca para os amantes da escalada, que equiparam aquela arquitectura natural com várias vias de diferentes graus de dificuldade.

Como o próprio topónimo indica, trata-se de um acidente tectónico, que se abre ao longo de aproximadamente 700 metros na encosta sul da Serra da Arrábida, sobranceiro e paralelo à linha de praia do Portinho. Este fenómeno terá sido provavelmente causado pela orogenia que verticalizou aquela junta de estratificação, ao ponto de a abrir numa grande brecha onde se desenvolveu um submundo de maravilha e viçosa luxúria, na qual a luz se perde numa penumbra de verdes e cambiantes de terra e argila.

A acção erosiva das águas orgânicas corroeu aquele espaço num labiríntico complexo de ocos propícios à exploração humana, proporcionando, assim, uma potencial área de habitat e abrigo, com diversos recantos apelativos, também, para uma utilização ritual. Porém, a sua prospectabilidade é de manifesta dificuldade, pelo facto de a área se desenvolver como uma imensa bacia de dejecção sedimentar, culminada por uma espessa camada de manta morta em constante produção. Se, por uma lado, os sedimentos escondem por completo os presumíveis vestígios arqueológicos, por outro, selam-nos, preservando de forma exemplar a sua latente informação, a aguardar uma oportuna intervenção de sondagem. Ainda assim, foram identificados alguns fragmentos de cerâmica manual, e um grande búzio (“buzina” – Charonia lampas) depositado numa pequena cavidade aberta num caos de blocos.

Tendo em conta as singulares particularidades deste local e a sua insinuante integração na rede de povoamento loco-regional do Bronze Final, destacando-se a “umbilical” proximidade e intervisibilidade com o povoado da Serra da Cela (a escassos 500 metros), será admissível atribuir-lhe uma funcionalidade de acessório abrigo sazonal, de apoio, controlo e defesa do porto subjacente, além de eventuais atribuições rituais. Outras cronologias também devem ser tidas em conta. Recorde-se que a área do Portinho da Arrábida tem vindo a documentar uma sequência de ocupação praticamente ininterrupta, a que o sítio da Fenda não terá certamente passado despercebido.

Outros sinais de ocupação...

A Arrábida no Bronze Final - a Paisagem e o Homem
Ricardo Soares
(2012)
Dissertação de Mestrado em Arqueologia
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Povoado de Valongo



Com a descoberta do povoado da Serra da Cela foi aberta uma nova frente de investigação no terreno, com particular enfoque na área envolvente do Portinho da Arrábida. Estas “investidas” foram recompensadas com a identificação de uma diversidade de novos vestígios correspondentes a diversas cronologias, surgindo, assim, alguns novos arqueossítios nas imediações, alguns dos quais enquadráveis no Bronze Final. Assim, e seguindo uma acertada informação do arqueólogo António Carvalho, foi recentemente confirmado (em 2010), no âmbito da Carta Arqueológica da Arrábida/Setúbal, um inédito povoado de altura (Valongo), na cota dos 400 metros e a pouca distância (cerca de 2,5 km) do ponto mais elevado da Serra (o Formosinho – 501 metros de altura).

Ainda em fase de caracterização (no prelo), é possível adiantar tratar-se de um modelar povoado de altura da Idade do Bronze, implantado ao longo de um desnivelado esporão calcário, com elevada defensibilidade natural dos lados norte e oeste. Nos lados sul e nascente, muito menos escarpados, conservam-se vestígios de um potente sistema defensivo, actualmente manifestado por um extenso cordão de aparelho calcário desmantelado, embora ainda se conservem alguns troços de faces de muro. Não foi possível, no estado actual da estrutura, avaliar a sua real espessura, uma vez que, só por meio de uma escavação será possível observar a sua face interna (blogue Arqueologia da Arrábida). Contudo, torna-se evidente uma maior potência construtiva no seu extremo nascente, mais desprotegido, onde o material desmantelado atinge um volume bastante considerável, sugerindo uma robusta muralha de planta semicircular, presumindo mesmo um dispositivo defensivo de maior complexidade (bastião?). Partindo deste semicírculo, e defendendo-se do sul, desenvolve-se o pano de muralha. Em boa verdade, esta estrutura é perfeitamente visível a partir da estrada do topo da serra, o que torna este achado ainda mais surpreendente. A elevada disponibilidade do aparelho pétreo resulta da fracturação natural, e eventualmente intencionar, das bancadas lapiazadas.

A superfície aplanada deste extremo nascente, semicircular, documentou uma notável concentração de materiais: fragmentos de cerâmica manual (destacando-se algumas carenas e um perfil em "S") e uma metade de braçal de arqueiro em xisto, de superfícies perfeitamente polidas, arestas biseladas e apresentando uma perfuração escareada nas duas faces.

O povoado do Valongo, baptizado pelo topónimo mais próximo (microtopónimo – Monte Trianos?), dista cerca de 3 km do povoado do Castelo dos Mouros (a poente), cerca de 6 km do povoado do Risco (a sudoeste) e cerca de 3 km do povoado da Serra da Cela (a sul), dominando-os visualmente e assumindo-se como o mais elevado vértice deste complexo populacional. Contudo, não goza de uma intervisibilidade directa com a Serra da Cela, esta só seria possível a partir de um cabeço que surge a poente (Valongo II), a menos de 1 km e separado por um suave vale. Esta contígua elevação, denotando elevada defensibilidade natural, com várias cinturas ataludadas de afloramentos calcários, também documentou alguns fragmentos de cerâmica manual, o que pressupõe uma relação directa com o povoado de Valongo, enquanto extensão do seu domínio visual sobre a costa e a enseada do Portinho. A par do directo contacto visual sobre os povoados associados, a “atalaia” de Valongo controla todo o fértil vale que nasce na Pré-Arrábida, na Serra de São Luís, e “desagua” nas Terras do Risco, área de elevado potencial agrícola, certamente integrada na área de influência deste complexo populacional.


"Aparelho ciclópico"


O Bronze Final na Região da Serra da Arrábida
(Setúbal/Sesimbra)
o Estado da Investigação e os Novos Dados
as Paisagens, as Grutas-Santuário, o Porto(inho) da Arrábida
e outros aspectos
(no prelo)
Ricardo Soares
(2012)
Dissertação de Mestrado em Arqueologia
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa