- Cabeço dos Caracóis -

Extracto da Folha 454 da CMP esc. 1:25000

Topografia do Cabeço dos Caracóis (Google Earth).

A estrada Aldeia de Irmãos-Portinho da Arrábida separa o cabeço de Coina-a-Velha (Casal do Bispo) do Cabeço dos Caracóis (São Lourenço/Setúbal) , um pronunciado esporão rochoso, com excelentes condições de defesa e domínio da paisagem, que serviu de base de implantação para um “clássico” povoado calcolítico.
A ocupação pré-histórica concentra-se na rechã aplanada, subjacente ao ponto mais elevado do cabeço, numa área de cota média rondando os 150 metros. A sua implantação não foge à “regra” de uma preferência calcolítica pelas meias encostas, situação também verificada, por exemplo, nos povoados de Chibanes (Palmela), Rotura (Setúbal), Moinho da Fonte do Sol (Palmela) e Outeiro Redondo (Sesimbra).
O cabeço é contornado a Norte-Noroeste por uma linha de água que nasce no rasgado vale adjacente, e a Oeste-Sul pela Ribeira do Alambre (?). A Sul estende-se uma planície aluvial senil, que ainda oferece excelentes condições agrícolas. De sublinhar o topónimo local “Porto de Cambas”, sugerindo uma antiga navegabilidade das ribeiras de Coina e do Alambre.

O povoado do Cabeço dos Caracóis é contemporâneo da primeira fase de ocupação do povoado do Pedrão (Serra de São Luís/Setúbal), encontrando-se também representada no Outeiro Redondo/Castro de Sesimbra, no Moinho do Cuco e no Zambujal (Sesimbra) (Silva e Soares, 1986).
As recolhas de superfície documentadas proporcionaram «materiais arqueológicos à superfície: utensilagem de pedra polida; cerâmica, designadamente copo canelado» (Ferreira et al., 1993, p. 269; base de dados "Endovélico").
Na visita que realizei ao sítio, em Junho de 2009, tive oportunidade de observar uma significativa quantidade de cerâmica dispersa por toda a área do povoado destacando-se: alguns bordos simples; bordos espessados de lábio plano; um bordo extrovertido (!), ocorrência também por mim registada no povoado do Moinho do Cuco; algumas carenas; e um pequeno mamilo. No que respeita aos artefactos líticos, não parecem abundar, no entanto identifiquei um pequeno fragmento distal com gume de machado de pedra bem polida, de secção poligonal, em anfibolito; quartzos leitosos com aspectos de talhe; alguns fragmentos de sílex e lascas de cherte.


Materiais do Cabeço dos Caracóis (seg. Silva e Soares, 1986, p. 83).

De sublinhar o facto de, ao contrário do observado na maioria dos povoados descritos no presente trabalho, não serem aparentes significativos vestígios malacológicos de superfície, apenas registei, na minha breve observação, dois fragmentos de concha de grandes dimensões, um deles de vieira (Pecten maximus), e que pela sua escassez e dimensão podem ter tido um carácter funcional ou votivo.

O sítio ainda não foi alvo de escavações arqueológicas, não se vislumbrando, à superfície, evidências de muralhas ou de outras estruturas defensivas, destacando-se a própria geomorfologia do local que constitui uma fortaleza natural per si. No entanto, é possível observar várias manchas de fracturação calcária sugerindo vestígios de derrubes de antigas estruturas, além de alguns alinhamentos rochosos contrários à natural orientação dos afloramentos locais e que podem indiciar restos estruturais de base.


Bibliografia:

FERREIRA, C. J. A.; LOURENÇO, F. S.; SILVA, C. T.; SOUSA, P. (1993) – Património Arqueológico do Distrito de Setúbal. Subsídios para uma carta arqueológica. Setúbal: Associação de Municípios do Distrito de Setúbal.

SILVA, Carlos Manuel Lindo Tavares da; SOARES, Joaquina (1986) – Arqueologia da Arrábida. Parques Naturais. Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza.

Gruta do Escoural



Gruta do Escoural/Montemor-o-Novo

Santuário de Arte Rupestre Peleolítico e Necrópole Neolítica com utilização religiosa, funerária e habitacional (povoado exterior).

Descrição: A Gruta do Escoural foi descoberta em 1963 permitindo, pela primeira vez em Portugal, a identificação de vestígios de arte rupestre paleolítica. Das galerias mais recônditas dessa cavidade subterrânea ao cimo do outeiro que a envolve floresceram, ao longo dos milénios, várias civilizações pré-históricas, desde o Mustierense até fase adiantada do Calcolítico. A mais antiga ocupação humana no Escoural data de há cerca de 50 000 anos (Paleolítico Médio). Embora se possam identificar diversos temas na arte rupestre do Escoural, as representações zoomórficas, do Paleolítico Superior, especialmente de Equídeos e Bovinos são dominantes.

A Gruta desenvolveu-se pela formação de calcários cristalinos metamorfizados, constituída por uma grande sala e múltiplas galerias. Possui diversos níveis de ocupação humana: a mais antiga data de há cerca de 50.000 anos (Paleolítico Médio), tendo servido de abrigo a comunidades nómadas. No Paleolítico superior é transformada num Santuário como atestam as pinturas e gravuras com representações zoomórficas e geométricas no seu interior. No Neolítico final foi utilizada como necrópole funerária. No exterior conservam-se vestígios de um santuário rupestre neolítico, de um povoado calcolítico, e a cerca de 300 metros um tholos.

O conjunto arqueológico do Escoural, pelo largo âmbito cronológico, pela diversidade e raridade dos seus vestígios, merece ser considerado como um marco importante na paisagem, como um testemunho excepcional da história das comunidades humanas que aqui deixaram fossilizado uma parte importante do seu comportamento.

Classificação: Monumento nacional (decreto n.º 45327 de 1963)

Cronologias: Paleolítico Médio (50.000 b.p.); Paleolítico Superior; Neolítico; Calcolítico

in: http://www.cm-montemornovo.pt/pt/