Povoado de Valongo



Com a descoberta do povoado da Serra da Cela foi aberta uma nova frente de investigação no terreno, com particular enfoque na área envolvente do Portinho da Arrábida. Estas “investidas” foram recompensadas com a identificação de uma diversidade de novos vestígios correspondentes a diversas cronologias, surgindo, assim, alguns novos arqueossítios nas imediações, alguns dos quais enquadráveis no Bronze Final. Assim, e seguindo uma acertada informação do arqueólogo António Carvalho, foi recentemente confirmado (em 2010), no âmbito da Carta Arqueológica da Arrábida/Setúbal, um inédito povoado de altura (Valongo), na cota dos 400 metros e a pouca distância (cerca de 2,5 km) do ponto mais elevado da Serra (o Formosinho – 501 metros de altura).

Ainda em fase de caracterização (no prelo), é possível adiantar tratar-se de um modelar povoado de altura da Idade do Bronze, implantado ao longo de um desnivelado esporão calcário, com elevada defensibilidade natural dos lados norte e oeste. Nos lados sul e nascente, muito menos escarpados, conservam-se vestígios de um potente sistema defensivo, actualmente manifestado por um extenso cordão de aparelho calcário desmantelado, embora ainda se conservem alguns troços de faces de muro. Não foi possível, no estado actual da estrutura, avaliar a sua real espessura, uma vez que, só por meio de uma escavação será possível observar a sua face interna (blogue Arqueologia da Arrábida). Contudo, torna-se evidente uma maior potência construtiva no seu extremo nascente, mais desprotegido, onde o material desmantelado atinge um volume bastante considerável, sugerindo uma robusta muralha de planta semicircular, presumindo mesmo um dispositivo defensivo de maior complexidade (bastião?). Partindo deste semicírculo, e defendendo-se do sul, desenvolve-se o pano de muralha. Em boa verdade, esta estrutura é perfeitamente visível a partir da estrada do topo da serra, o que torna este achado ainda mais surpreendente. A elevada disponibilidade do aparelho pétreo resulta da fracturação natural, e eventualmente intencionar, das bancadas lapiazadas.

A superfície aplanada deste extremo nascente, semicircular, documentou uma notável concentração de materiais: fragmentos de cerâmica manual (destacando-se algumas carenas e um perfil em "S") e uma metade de braçal de arqueiro em xisto, de superfícies perfeitamente polidas, arestas biseladas e apresentando uma perfuração escareada nas duas faces.

O povoado do Valongo, baptizado pelo topónimo mais próximo (microtopónimo – Monte Trianos?), dista cerca de 3 km do povoado do Castelo dos Mouros (a poente), cerca de 6 km do povoado do Risco (a sudoeste) e cerca de 3 km do povoado da Serra da Cela (a sul), dominando-os visualmente e assumindo-se como o mais elevado vértice deste complexo populacional. Contudo, não goza de uma intervisibilidade directa com a Serra da Cela, esta só seria possível a partir de um cabeço que surge a poente (Valongo II), a menos de 1 km e separado por um suave vale. Esta contígua elevação, denotando elevada defensibilidade natural, com várias cinturas ataludadas de afloramentos calcários, também documentou alguns fragmentos de cerâmica manual, o que pressupõe uma relação directa com o povoado de Valongo, enquanto extensão do seu domínio visual sobre a costa e a enseada do Portinho. A par do directo contacto visual sobre os povoados associados, a “atalaia” de Valongo controla todo o fértil vale que nasce na Pré-Arrábida, na Serra de São Luís, e “desagua” nas Terras do Risco, área de elevado potencial agrícola, certamente integrada na área de influência deste complexo populacional.


"Aparelho ciclópico"


O Bronze Final na Região da Serra da Arrábida
(Setúbal/Sesimbra)
o Estado da Investigação e os Novos Dados
as Paisagens, as Grutas-Santuário, o Porto(inho) da Arrábida
e outros aspectos
(no prelo)
Ricardo Soares
(2012)
Dissertação de Mestrado em Arqueologia
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Photography in Archaeology




This book is based on courses in archaeological and conservation photography
given to students at the Institute of Archaeology, University College
London, and on the experience of some years of facing, and sometimes
solving, archaeological and photographic problems in Britain, the Mediterranean
and the Levant.

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