Domina todo o vale diapírico e baía de Sesimbra, entre a praia da Califórnia e o Forte do Cavalo, contactado visualmente o povoado do Zambujal, seu contemporâneo (a Noroeste). A Norte e Este é praticamente inexpugnável, dispensando estruturas defensivas, sendo o acesso ao sítio apenas possível pelo recorte orográfico entre o cabeço contíguo (o cabeço do Moinho da Forca, a Sudoeste), por seu turno contíguo ao morro do castelo. É neste ponto que se definem os derrubes de muralha e algumas estruturas habitacionais, entretanto alvo de intervenções arqueológicas de escavação sob a direcção de João Luís Cardoso (2005-2008).
João Luís Cardoso adianta, pela primeira vez, alguns resultados das suas recentes investigações: uma potência estratigráfica máxima de cerca de 1,20 metros, que evidencia uma «permanência de ocupação humana durante quase todo o III milénio a.C.», entre o Calcolítico inicial da Estremadura (primeiros séculos do III milénio a.C.) e o Calcolítico pleno (Campaniforme Internacional) – entre cerca de 2800 e 2200 a.C. (cronologia aferida com base em datações radiocarbónicas). Os níveis inferiores registam «numerosos fragmentos de taças com decoração de finas caneluras paralelas, constituindo bandas simples abaixo do bordo, acompanhadas, entre outros, por recipientes de paredes direitas e fundos planos ou ligeiramente convexos (“copos”, na nomenclatura arqueológica)». Nos níveis superiores estas produções cerâmicas vão ser substituídas por recipientes de paredes direitas e recipientes esféricos (vasos de provisões), decorados com motivos em “folha de acácia” e “crucíferos”. A estratigrafia calcolítica é encerrada por «escassos fragmentos de vasos campaniformes do grupo Internacional» – Calcolítico pleno (ob. cit., p. 154).
No que respeita à metalurgia do Outeiro Redondo, esta encontra-se bem documentada desde o Calcolítico inicial, sendo a produção local aparentemente confirmada pela ocorrência de um pequeno lingote que depois de analisado nos remete para uma provável origem no Alto-Alentejo.
Por seu turno, a cultura lítica é atestada pela presença de machados e enxós de pedra polida em anfibolitos (também originários daquele quadrante alentejano), além de «um belo conjunto de pontas de seta, raspadores, de lâminas e de elementos de talhe bifacial, cujo brilho, conservado ao longo do gume, indica a sua utilização como elementos de foices» (ob. cit., p. 154). Pelo seu aspecto, o sílex aparenta ter origem, na sua maior porção, «nos afloramentos cretácicos situados a norte do Tejo». Além dos referidos elementos de foice, as práticas agrícolas encontram-se bem documentadas pela recolha de diversos elementos de mós manuais (dormentes e moventes) que, segundo o autor, também poderiam ter servido para «farinar bolotas». A tecelagem também surge comprovada pela ocorrência de «numerosas placas de barro perfuradas», interpretadas como pesos de primitivos teares (ob. cit., p. 154-155).
As estruturas habitacionais são mais discretas, destacando-se uma estrutura de combustão («lareira estruturada»), utilizada durante o Calcolítico inicial. De referir, ainda, uma série de muros radiais em relação à muralha, perpendiculares ao seu lado interno, que compartimentaram as estruturas domésticas durante o Calcolítico pleno (ob. cit., p. 155). Segundo Manuel Calado, «a área delimitada pelo potente sistema defensivo é muito escassa, pelo que estamos perante aquilo que se poderia designar, com alguma liberdade analógica, como “casal fortificado”» (Calado et. al., 2009, p. 26).
Nas visitas que realizei ao local verifiquei, em toda a área do povoado, sobretudo na área intervencionada, numerosos fragmentos de cerâmica manual, em particular alguns bordos de taça espessados, de lábio plano; fragmentos de cerâmica canelada; um fragmento cerâmico com perfuração de suspensão; artefactos de sílex e chert; e dormentes de mós manuais em arenito, integrando os vestígios estruturais. Por outro lado, actividades como a criação de gado e a recolecção marisqueira são fáceis de constatar na observação de superfície: diversos restos osteológicos (ovi-caprídeos) e abundantes e singularmente diversificados restos malacológicos: lapa (Patella vulgata e Patella aspera?), mexilhão (Mytilus edulis), ostra (Crassostrea angulata), búzio, e outros fragmentos de conchas de bivalves, de grande porte e espessura, que não me arrisco a identificar.
CALADO, M.; GONÇALVES, L.; FRANCISCO, R.; ALVIM, P.; ROCHA, L.; FERNANDES, R. (2009) – O Tempo do Risco. Carta Arqueológica de Sesimbra. Sesimbra: Câmara Municipal.
CARDOSO, J. L. (2009) – Outeiro Redondo. O Tempo do Risco. Carta Arqueológica de Sesimbra. Sesimbra: Câmara Municipal, p. 154-155.
MARQUES, G. (1967) – Castro eneolítico de Sesimbra. Boletim do Centro de Estudos do Museu Arqueológico de Sesimbra. Sesimbra: 1:1 e 2, p. 10-21.
SERRÃO, E. C. (1994) – Carta Arqueológica do Concelho de Sesimbra (desde o Vilafranquiano Mádio até 1200 d.C.). Sesimbra: Câmara Municipal de Sesimbra.
SILVA, C. T.; SOARES, J. (1986) – Arqueologia da Arrábida. Parques Naturais. Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, 15.