Alandroal | Terena | São Pedro
Povoado fortificado, com cerca de 1 ha de área útil, ocupado em diferentes épocas desde o III milénio a.C., até ao século X da nossa Era. Tudo indica, efectivamente, que houve longos períodos de abandono, dos quais o mais evidente, no estado actual da investigação, foi o que decorreu entre o final da Idade do Ferro e a ocupação Islâmica (cerca de mil anos).
O sítio apresenta uma defensabilidade excepcional, uma vez que o acesso era viável apenas pelo lado Oeste, por um caminho estreito, de cuja utilização se conservam traços na rocha xistosa; os outros lados contam com vertentes muito inclinadas, delimitadas na base pelo Rio Lucefecit e por um pequeno afluente. Em contrapartida, a visibilidade sobre o território envolvente é relativamente escassa, uma vez que em redor do povoado se elevam cabeços com maior altimetria. No terço superior do declive, em todo o perímetro do povoado, observa-se um talude onde afloram vestígios relativamente bem conservados de muralhas de xisto. O aparelho defensivo apresenta diversas fases construtivas, com técnicas e plantas bastante diversificadas.
No sopé da vertente Norte abre-se uma pequena galeria irregular, artificialmente afeiçoada, conhecida como a "Casa da Moura"; pode tratar-se quer de uma sondagem de mineração quer de um espaço ritual, com paralelos nos “santuários” etnográficos frequentes na região, cuja caracterização comum é a existência de uma cavidade na rocha e que a tradição popular atribui sistematicamente às mouras encantadas.
Numa pequena elevação coroada por uma formação rochosa de forma vagamente antropomórfica, junto da presumível entrada principal do povoado, regista-se a presença de cerâmicas, escórias de fundição e restos de estruturas. A tradição popular considera este local, denominado “Pedra do Charro”, a sepultura de um bandoleiro lendário, o Charro, enterrado com todas as suas riquezas. De facto, pode tratar-se de uma área se habitat marginal, nomeadamente o local das actividades metalúrgicas, numa determinada época do povoamento. Pode tratar-se também de uma necrópole relacionada com o povoado, o que daria algum fundamento à tradição local.
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"Pedra do Charro" |
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José Leite de Vasconcellos, publica em 1895, no Vol. I de O Arqueólogo Português, (p. 212-213), uma breve notícia onde descreve com algum pormenor o “Castelo Velho” após a sua visita ao local – O insigne arqueólogo não deixou de relacionar este povoado e o do Castelinho com o santuário de Endovélico em São Miguel da Mota, localizado a cerca de 1.500 m em linha recta, admitindo que «esse santuário pertenceria a uma das referidas povoações, ou a ambas» (Vasconcellos, 1885, p. 213).
O Castelo Velho foi classificado como Monumento Nacional por decreto de 16.06.1910, sendo o único sítio arqueológico classificado no concelho do Alandroal.
in Carta Arqueológica do Alandroal
(Calado, M., 1993, p, 63-64)
Em suma, e por outras palavras:
Está à face do Lucefecit
Um castelo feito pelos Mouros
A muita gente lhe parece
e dizem que há ali tesouro
Tem mais de cinquenta metros de altura
E o cimo forma quadrado
Feito em terra bem rampado
E com mais ou menos de largura
Isto é verdade pura
Não é coisa que alguém dissesse
De muito lado aparece
Não sou só eu que o digo
Mas há um monumento antigo
À face do Lucefetit
Aí uns cem passos ou mais
Tem uma pedra ao lado
Onde o Charro foi sepultado
Ou os seus restos mortais
Vieram da Câmara os sinais
Essa notícia nos poram
Dizem que eles é que foram
Que está escrito na história
Mas aqui está de memória
Um castelo feito pelos Mouros
A muitas pessoas que ali vão
Mete o seu respeito e medo
Está um buraco num rochedo
Onde era a habitação
Viveram debaixo do chão
Que é a demostra que parece
É caso que ninguém conhece
Para que foi a fortaleza
Mas dizem que há ali riqueza
E a muita gente lhe parece
Décimas dedicadas ao Castelo Velho
(in Carta Arqueológica do Alandroal
Calado, M., 1993)
Noutra época mais atrasada
A homens antigos ainda ouvi
Mas quando esteja a ser tirada
Diz que aparece um preto touro
Onde está o diamante e o ouro
Mas não há ninguém que se afoite
E dizem que há ali tesouro
Dionísio António Rita - poeta popular
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"Casa da Moura" |
Na visita ao Castelo Velho ainda pode contar com um outra preciosidade, desta feita etnográfica: o Moinho do Setil
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