Depois de 5 anos a "trabalhar para o Bronze"...
Resumo
Muito
genericamente, o presente trabalho pretende produzir uma análise de questões
relacionadas com as estratégias de povoamento das comunidades que habitaram
o(s) território(s) da Serra da Arrábida no decorrer do período histórico
convencionalmente denominado de “Bronze Final”. A investigação focou-se nas
áreas da Serra da Arrábida e da Serra do Risco, estendendo-se, para poente, até
às serras dos Pinheirinhos e da Azóia, na plataforma do Cabo Espichel, e, para
nascente, até à “Pré-Arrábida”, dominante sobre a foz do Sado. Para o efeito, a
Arrábida (Península de Setúbal) foi entendida como um território definido e circunscrito, a norte, pelo
Tejo, a sul, pelo Sado, e, a oeste, pelo Oceano; um território de charneira
entre o Atlântico e o Mediterrâneo, entre o Norte e o Sul, entre o litoral e o
interior; um excepcional ponto de convergência de linhas naturais de
transitabilidade (terrestres, fluviais e marítimas), reunindo um conjunto de particularidades geográficas que, associadas às suas excelentes
condições naturais de defesa, acessibilidade e abrigo de costa, à
disponibilidade dos seus recursos hídricos, marinhos e cinegéticos, e fertilidade dos seus vales, proporcionaram um edénico quadro, em termos de
fixação humana, e ao longo da história, particularmente no decurso do Bronze
Final. Isto, sem contar com a dimensão estética das paisagens da Arrábida,
aspecto que talvez não tenha sido indiferente às comunidades que, em épocas
antigas por aqui se instalaram. Posto isto, impôs-se estabelecer um “ponto da
situação”, a partir da bibliografia produzida até à data, reconhecendo e coligindo
os parcos dados disponíveis e apresentando uma resenha histórica da
investigação que lhes subjaz. Para um melhor entendimento do período em causa,
e complementarmente, procedeu-se, de forma genérica, a um esboço da sua génese
e evolução no âmbito da bibliografia arqueológica europeia, destacando-se as
principais questões de ordem teórica e metodológica. Neste seguimento, face à
escassez de dados regionais, foi inevitável procurar eventuais paralelos e/ou
avaliar as diferenças relativamente a modelos de ocupação traçados para outras
áreas, com particular atenção para o Sudoeste Peninsular. Tratando-se de um
tema muito pouco estudado, mas onde já afloravam contextos arqueológicos
particularmente sugestivos (o monumento funerário da Roça do Casal do Meio, o povoado
do Castelo dos Mouros e algumas grutas), entendeu-se pois oportuno avançar com
um trabalho de síntese, complementado pelas novidades emergentes das cartas
arqueológicas de Sesimbra (2007-2009) e de Setúbal (2010-2013),
projectos integrados pelo signatário na qualidade de arqueólogo, espeleólogo e
fotógrafo, e que têm permitido ampliar significativamente a base de dados
relativa a algumas facetas da questão. A hora ainda não nos permite obter uma
perspectiva, sincrónica e de “curta duração”, do povoamento na Arrábida ao
longo do 2.º e 1.º milénios a.C. Ainda assim, facto é que a Arrábida afigura-se
hoje como um interessante “iceberg de
Bronze”, no qual se pode descortinar uma florescente e vigorosa cota emersa no
horizonte cultural da última fase da Idade do Bronze do Sul da Estremadura. A
avaliação global dos dados disponíveis, acerca do povoamento e sobre o
território, sugere, por um lado, uma forte articulação com as vias de
comunicação marítimas e fluviais e, por outro, a possibilidade de estarmos
perante uma unidade política coerente num território específico e
individualizado.
Palavras-chave: Arrábida, Sado, Paisagens, Presença
Humana, Bronze Final, a Vida e o Sagrado, Santuários Naturais, Navegações, Sal.
Abstract
The object of this work is to analyse some issues
regarding the settlement strategies of the communities that once inhabited the
territory(-ies) of Serra da Arrábida (Setúbal/Sesimbra, Portugal) during the period in History conventionally
called the “Late Bronze Age”. The research work focused on two main areas – Serra da Arrábida and Serra do Risco – but it also extended to
the west, covering the areas of Pinheirinhos
and Azóia (both elevations located on
the plateau of Cabo Espichel), and to
the east, covering what is called the “Pre-Arrábida”, overhanging the mouth of
river Sado. For the purpose of this
work, Arrábida (on the Portuguese
peninsula of Setúbal) comprises a
well-defined territory, limited to the north by the river Tagus, to the south
by the river Sado and to the west by
the Atlantic ocean; a strategically placed territory, a frontier between the
Atlantic and the Mediterranean, North and South, coastline and inland; an
exceptional location where all natural routes converge (land, river and sea).
This incredible set of geographical peculiarities, in association with
excellent natural means of defence, accessibility and shelter, the abundance of
water, fishing and game resources, as well as the fertility of the valleys,
constituted a perfect setting for human settlement throughout history, and must
have been particularly appealing during the Late Bronze Age. An additional
aspect that perhaps did not escape the attention of the communities that chose
to settle down in Arrábida in ancient
times is the great beauty of this magnificent landscape. In light of all this,
it was imperative to establish a “state of the art”, based on the bibliography
and data available, in order to collect and acknowledge the scarce information,
as well as to make an historical summary of the research work involved. To give
a better understanding of that period, this work includes a generic and
complementary summary of its genesis and evolution in the scope of European
archaeological bibliography, highlighting the main theoretical and methodological
issues. Next, and given the scarcity of regional data, it was inevitable to
look for possible parallels and/or to evaluate the differences regarding
settlement models already established for other areas, particularly for the
Southwest of the Iberian Peninsula. Although this subject has not been the
object of many studies, several very suggestive archaeological sites have come
up, namely, the funerary monument of Roça
do Casal do Meio, the settlement at Castelo
dos Mouros, and some caves). Therefore, it seemed appropriate to present a
summary of these sites, while at the same time complementing it with new data
uncovered during the field work done for the archaeological surveys of Sesimbra (2007-2009) and Setúbal (2010-2013), two
projects that contributed to increase quite significantly the existing database
regarding some of the issues in discussion and in which the author participated
as archaeologist, speleologist and photographer. For the time being, it is
still not possible to have a synchronic short-term perspective of the
settlement in Arrábida throughout the
2nd and 1st millenniums BC. Nevertheless, Arrábida is seen today as an interesting
“Bronze iceberg”, a place that holds tremendous promise, because beneath its
waterline there seems to be a strong and flourishing source of material which
will enrich the cultural horizon of the final period of the Bronze Age. The
overall data assessment regarding settlement and territory suggests a strong
articulation with communication routes along watercourses or sea, as well as
the possible existence of a coherent political unit within a specified and
contained territory.
Key words: Arrábida, Sado,
Landscapes, Human presence, Late Bronze Age, Life and Sacred, Natural
Sanctuaries, Navigation, Salt.
Presentation