BONUM HIEMIS SOLSTITIUM

"O Farol do Fim do Mundo" | Promontorium Sacrum - Sagres
O Solstício de Inverno ocorreu hoje, dia 21 de Dezembro de 2013, pelas 17:11 (hora de Lisboa). Este instante assinala o início da estação mais fria do ano, uma estação que se prolongará por 88,99 dias, até ao próximo Equinócio, no dia 20 de Março de 2013, pelas 15:57 (hora de Lisboa).

Em Astronomia, os Solstícios correspondem aos momentos em que o Sol atinge declinações extremas, ou seja, as posições máxima e mínima no céu em relação ao equador. A palavra tem origem latina (Solstitium) e encontra-se associada à ideia de que o Sol fica estacionário ao atingir essas posições.

Uma âncora de pedra emersa da ruralidade algarvia ou simplesmente uma "poita de burro"?



O objecto aqui apresentado foi recentemente identificado, descontextualizado, surgindo "em seco", nas imediações de ruínas de um "casal agrícola" de época contemporânea/etnográfica. 
Produzida em grés (arenito) vermelho de Silves, apresenta uma forma grosseiramente triangular, com uma regular perfuração no seu extremo menor. 
A explicação funcional mais simples remete-nos para uma "poita de burro", ou seja, uma amarra de pedra perfurada que, horizontalmente, incorporava a parede de um edifício rural, destinando-se a prender animais. 
A outra possibilidade, considerando analogias mais costeiras, consiste na possibilidade de se tratar de uma ancora lítica que, por se encontrar distante dos seus mais expectáveis ambientes de ocorrência (marinhos, fluviais ou museológicos!), implicaria dois momentos distintos de utilização: a original função náutica e a sua posterior deslocação e reutilização em ambiente rural. De facto, existem diversos paralelos algarvios de âncoras líticas morfologicamente semelhantes ao monólito aqui apresentado. 
Em qualquer das hipóteses, esta pedra reveste-se de um conjunto de curiosos aspectos: no seu lado menor, no topo envolvente à perfuração, apresenta algumas depressões semiesféricas, prováveis "covinhas" de bigorna; uma série de alongados trilhos incisos, dispersos sobretudo na metade superior da peça e comummente associados a tarefas de afiar/amolar gumes de machados e de outras lâminas; e, no centro de uma das faces, uma depressão longitudinal de polimento. 
Trata-se de um conjunto de evidências que propõem uma ferramenta rural multiusos. As características geológicas do grés de Silves, um arenito de grande dureza e de grão-fino, foram exploradas desde a Pré-história até à actualidade, designadamente para tarefas de amolar gumes. 

A propósito das poitas e âncoras de pedra, antes e após o advento dos metais, o Homem recorreu a estes objectos para fixar as embarcações nas suas primárias actividades. Estão em causa blocos de pedra, geralmente de grosseira forma trapezoidal, circular ou triangular, apresentando perfurações no lado menor (1, 2 ou 3) ou entalhes laterais para a passagem do cordame de fixação.
O recurso ao metal em âncoras só se encontra documentado a partir do séc. VII a.C., enquanto a utilização da pedra é registada de forma continuada até aos dias de hoje, com variadíssimos casos de reutilização como poitas de fundeadouro, o que levanta grandes dificuldades de contextualização e datação.
Consciente da sua importância, Honor Frost elaborou uma tipologia para as âncoras líticas recuperadas por toda a orla do Mediterrâneo, procurando esboçar um mapa das rotas percorridas por embarcações desde a Idade do Bronze (Frost, 1972; 1985).
O estudo destas peças líticas permite identificar os fundeadouros e os “proto-portos” dos primeiros navegantes, oferecendo dados fundamentais acerca da dimensão das embarcações que fixavam, da sua proveniência e do carácter das navegações que praticavam – cabotagem ou alto-mar.
A utilização de âncoras de pedra encontra-se documentada, por exemplo, no célebre naufrágio do Bronze Final do promontório de Ulu Burun (Turquia), onde foram assinaladas sete grandes âncoras líticas (Pulak, 1994).
Também em Portugal têm sido identificados diversos casos, sobretudo trazidos “à tona” por pescadores e mergulhadores. Foi o caso do exemplar recuperado por mergulhadores ao largo do Farol da Guia, em Cascais (fig. 149). Trata-se de uma âncora lítica de dois orifícios, de forma trapezoidal bastante alargada, que pela sua tipologia foi enquadrada na segunda metade do 1.º milénio a.C. (Carvalho e Freire, 2007, p. 6, cf. Frost, 1970). No Museu do Mar Rei D. Carlos (Cascais), onde foi depositado, também se pode observar outro exemplar, de forma triangular e um orifício, recuperado no Algarve nos anos de 1980 (fig. 150 – Carvalho e Freire, 2007, p. 6).
De facto, até à data, parece ter sido nas costas algarvias que se identificou o maior número destas peças, designadamente em Albufeira (Simplício, 1999, p. 8-9). Ainda que muitas vezes descontextualizados, lá vão surgindo diversos exemplares expostos em alguns museus (Museu de Portimão, Museu Municipal de Arqueologia de Silves, etc.). 
Também no rio Sado (Carvalho e Freire, 2007, p. 7) e na Arrábida (mergulhos promovidos pela Câmara de Sesimbra) têm surgido notícias acerca destes objectos, porém não foi possível, até ao momento do fecho do presente texto, precisar melhor estas últimas informações orais.


Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Ricardo Soares
2012-2013

Projecto MAO - Menires do Algarve Ocidental

«(...) Na classe dos monumentos megalithicos [1] estão grupadas as mais typicas construcções da architectura prehistorica, formadas de grandes pedras toscas, comprehendendo os menhirs, alinhamentos, cromlecks e dolmens. O menhir é uma unica pedra tosca erguida a pino e cravada no solo, de fórma variavel e de diversas dimensões. D'estas pedras monumentaes consta existirem muitas in situ em todo o reino, mas ainda ninguem tratou de inventarial-as e descrevel-as [2] (...)».

«(...) No Algarve, já muito depois das explorações que dirigi por incumbencia do governo, recebi noticia de haver no cabeço de uns serros da freguezia de Vaqueiros algumas pedras altas, cravadas no solo e verticalmente erguidas. Não tenho informações de confiança a este respeito e por isso, embora as que recebi me possam inspirar a presumpção de haver alli um ou mais cromlecks, não ouso affirmar cousa alguma. Devo porém desde já indicar na freguezia serrana de Vaqueiros o elemento neolithico, em presença de uma collecção, que em seu logar descreverei, de silices lascados e de interessantes instrumentos de pedra polida alli achados em excavações ruraes, pertencentes ao sr. Antonio de Paulo Serpa, empregado na direcção das obras publicas do districto de Faro (...)».




[1] Diz-se ser este termo derivado do prefixo mega, que significa grande, e de lithos, pedra.

[2] Depois de escripto este capitulo, veiu á minha mão um trabalho impresso em 1881 na tyographia Lallemant, intitulado : Relatorio e mappas ácêrca dos edifícios que devem ser classificados monumentos nacionaes, apresenlados ao governo pela real associação dos architectos civis e archeologos porluguezes, em conformidade da portaria do ministerio das obras publicas de 24 de outubro de 1880. Este relatorio, servindo de resposta á portaria, dividiu os monumentos nacionaes (?) em seis classes, e na ultima registrou os prehistoricos. 

Em todo o reino ficaram pois indicados trinta e tres logares com dolmens ou antas, tres com menhirs e dois com mamunhas. Nada mais! Estão portanto officialmente inventariados tres menhirs e todos no concelho de Villa Velha do Rodam, um em Fantel, outro em Monte Fidalgo e o terceiro na ribeira de Alcafalla.

Por Sebastião Philippes Martins Estacio da Veiga
VEIGA, E. da (1886) – Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional.

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«(...) Um menir é um monumento constituído por um monólito, mais ou menos oblongo, cravado verticalmente no solo e com dimensões muito variáveis. A matéria prima no que diz respeito aos menires portugueses, é constituída exclusivamente por granitos ou rochas granitóides, excepto os do Algarve, nos quais foram sistematicamente utilizados os calcários ou o grés (...)».

Por Manuel Calado
CALADO, M. (1993) – Menires, alinhamentos e cromlechs. In: MEDINA, J. (ed.) - História de Portugal, vol. 1 (coordenado por Victor S. Gonçalves), p. 294. Lisboa: Ediclube.


Inventário de Menires do Algarve:

Abrutiais (Silves)
Adreneira (3) (Vila do Bispo)
Afonso Vicente 1 (3) (Alcoutim)
Afonso Vicente 2 (4) (Alcoutim)
Alcalar 1 (Portimão)
Alcalar 4 (Portimão)
Alfarrobeira (Silves)
Almarjão (2) (Silves)
Amantes I (17) (Vila do Bispo)
Amantes II (10) (Vila do Bispo)

Areia das Almas (11) (Lagoa)

Arneiros (Vila do Bispo)
Aspradantas (3) (Vila do Bispo)
Barão de S.Miguel (Lagos)
Barradas (Vila do Bispo)
Bem Parece (Vila do Bispo)
Benagaia (Silves)
Bensafrim (Lagos)
Budens (Vila do Bispo)
Caramujeira (26) (Lagoa)
Carriços (5) (Vila do Bispo)
Casa do Francês (6) (Vila do Bispo)
Castanheiro (4) (Lagos)
Cerro das Alagoas (Loulé)
Cerro das Pedras (3) (Loulé)
Cerro do Camacho (5) (Vila do Bispo)
Colinas Verdes (Lagos)
Cruzinha (Portimão)
Cumeada (Silves)
Ferrel de Baixo (Lagos)
Ferrel de Cima 1 (Lagos)
Figueira (8) (Vila do Bispo)
Figueiral (8) (Lagos)
Gasga (6) (Vila do Bispo)
Gregórios (Silves)
Guadalupe (Vila do Bispo)
Ingrina (3) (Vila do Bispo)
Ladeiras (2) (Vila do Bispo)
Lameira (Portimão)

Lomba da Góia (1) (Vila do Bispo)
Lombos (3) (Lagoa)
Maranhão Novo (Lagos)
Marmeleiros (3) (Vila do Bispo)
Marreiros I (3) (Vila do Bispo)
Marreiros II (4) (Vila do Bispo)

Milrei (21) (Vila do Bispo)
Monte Alto (Lagos)
Monte Branco (Silves)
Monte da Pedra Branca (Silves)
Monte de Roma (Silves)
Montes Juntos (Lagos)
Morgados (Vila do Bispo)
Odiáxere (Lagos)

Padrão (15) (Vila do Bispo)
Palmares (4) (Lagos)
Pedra Branca (Lagos)
Pedra Escorregadia (3) (Vila do Bispo)

Pedra Moirinha (Portimão)
Pedras Ruivas (Loulé)
Pedras Ruivas (Portimão)
Penedo Gordo (Silves)
Pinheiral (2) (Lagos)
Pontais (Silves)
Portela da Vaqueira (Portimão)
Portela do Padrão (4) (Lagos)
Quinta da Queimada (7) (Lagos)
Rocha (2) (Lagos)
Rocha Branca (Silves)
Rochedo (Lagos)
S.Rafael (2) (Albufeira)
Sabrosa (4) (Lagos)
Salgadas (Lagos)
Santo António de Baixo (2) (Vila do Bispo)
Santo António de Cima (Vila do Bispo)
Serra da Borges (4) (Vila do Bispo)
Torre (2) (Lagos)
Torrejão Velho (Silves)
Três Bicos (Portimão)
Vale da Lama (Silves)
Vale de França (Portimão)
Vale de Gato de Cima (3) (Vila do Bispo)
Vale de Oiro (2) (Vila do Bispo)

Velarinha (Silves)

(inventário em actualização)

Arqueologia em Portugal 150 anos | A Arrábida no Bronze Final - leituras e narrativas




Arqueologia em Portugal 150 anos
A Arrábida no Bronze Final - leituras e narrativas
Ricardo Soares

RESUMO: Análise de questões relacionadas com as estratégias de povoamento, opções de culto, exploração de recursos disponíveis e vias de trânsito trilhadas pelas comunidades que habitaram o território da Serra da Arrábida no decorrer do Bronze Final. Tratandose de um tema escassamente estudado, mas onde já afloravam contextos particularmente sugestivos, entendeuse oportuno avançar com um inédito trabalho de síntese dos dados disponíveis. A hora ainda não permite obter uma perspectiva sincrónica e de “curta duração”, ainda assim, a informação produzida sugere um coerente complexo demográfico, instalado num território específico e individualizado, com algum grau de diferenciação e de ordenamento político-administrativo, insinuando uma forte articulação com as vias de comunicação, muito em especial as fluvio-marítimas.

ABSTRACT: Analysis of issues related to settlement strategies, cult options, exploration of available resources and transit routes threshed by the communities that inhabited the territory of the Arrábida range (Setúbal/Portugal) during the Late Bronze Age. This is a poorly studied subject, but particularly suggestive contexts have arisen, and
it seemed appropriate to bring forward an unprecedented summary of available data. Time does not provide a synchronic and “shorttime” perspective. Still, the information produced suggests a coherent complex demographic, installed in a specific and individualized territory, with some degree of politicaladministrative differentiation, suggesting a strong connection with the communication routes, most markedly the fluvialmarine.

Parabéns e obrigado à 
Associação dos Arqueólogos Portugueses 
pelos seus 
(nossos) 
150 anos

Encontros: Arte como Arqueologia, Arqueologia como Arte

Sara Navarro

Resumo: A arte contemporânea tem vindo a transformar-se naquilo que podemos descrever como um vasto programa de investigação que olha de forma crítica aquilo que somos e, neste sentido, pode oferecer um recurso fundamental para quem queira refletir sobre o mundo e perceber o processo que fez de nós o que somos hoje. A partir da constatação de que artistas e arqueólogos prestam, atualmente, cada vez mais atenção ao respectivo trabalho de uns e de outros, proponho explorar a forma como a arte contemporânea – e em particular o meu trabalho – se pode encaixar no projeto arqueológico de estudo, compreensão e comunicação do passado humano.

Palavras-chave: Arte; Arqueologia; Criatividade; Objetividade; Afetividade.



Publicação produzida a partir do Colóquio Internacional Artes e Ciências em Diálogo, que teve lugar na Universidade do Algarve nos dias 17 e 18 de janeiro de 2013, organizado pela Fundação para o Desenvolvimento da Universidade do Algarve (FDUAlg), em parceria com o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Universidade de Lisboa, pelo Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) e pelo Centro de Biomedicina Molecular e Estrutural (CBME) da UAlg.

Museu Jorge Vieira - Casa das Artes | Beja



O Museu Jorge Vieira integra parte do espólio artístico que o escultor Jorge Vieira doou à Câmara Municipal de Beja em 1994. Instalado, desde Maio de1995, num edifício do centro histórico da cidade, o Museu alberga um importante conjunto de esculturas, maquetas e desenhos da autoria de Jorge Vieira, artista plástico que marcou o percurso da arte portuguesa ao longo do século XX.
Jorge Ricardo da Conceição Vieira nasceu em Lisboa, a 16 de Novembro de1922. Entre 1944 e 1953 frequentou a Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde começou por se matricular em arquitetura transitando depois para escultura. Foi aluno de Simões de Almeida e Leopoldo de Almeida e trabalhou nos ateliers de António Duarte, Francisco Franco e António Rocha. Participou em diversas tertúlias artísticas da época, juntamente com inúmeros vultos da cultura portuguesa, como Sena da Silva, Lagoa Henriques, Dias Coelho, João Abel Manta, entre outros. Em 1953 concorre ao Concurso Internacional de Escultura O Prisioneiro Político Desconhecido, promovido pelo Institute of Contemporary Arts, de Londres.
Entre mais de 2500 concorrentes, representando 54 países, foi o único português selecionado, expondo o seu trabalho, juntamente com os outros premiados, na Tate Gallery. Em 1954 instala-se em Londres para frequentar a Slade School of Fine Arts, trabalhando sob a orientação de Henry Moore, F. E. Mc’William e RegButler. Regressa a Portugal em 1956, onde retoma a sua atividade docente, participando, desde essa data, em inúmeras exposições coletivas e individuais, em Portugal e no estrangeiro, ganhando diversos prémios.
Tem obras suas em diversas cidades e coleções do país. A sua ligação a Beja fortalece-se em 1994, quando é inaugurado, numa rotunda acesso à cidade, o seu Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido, uma iniciativa do Município da cidade. É a partir do estreitar desta relação que o escultor decide doar parte do seu espólio à cidade de Beja. Jorge Vieira faleceu em Estremoz, em 1998. A colecção permanente pode ser visitada no primeiro piso do Museu. A receção, sala de exposições temporárias e sala de ateliês encontram-se no piso 0.

Contactos:
Museu Jorge Vieira/Casa das Artes
Rua do Touro, 33
7800-489 Beja
Telefone: 284 311 920

Horário:
De 3ª feira a Domingo das 09h30 às 12h30 e das 14h às 18h
Encerra à 2ª feira e dias feriado




De destacar a relação artística de Jorge Vieira com o "Primitivismo Arqueológico"
O Arqueologismo na Escultura de Jorge Vieira
Sara Navarro 
(Arte Teoria 2011/2012)