Laboratório e Anfiteatro de Química da Escola Politécnica


Provavelmente o único sobrevivente dos grandes laboratórios de ensino e investigação das universidades europeias, o Laboratorio de Chimica da Escola Polytechnica, e o seu Amphiteatro, sediados no actual Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, constituem uma jóia histórica e científica da Universidade de Lisboa, da cidade e do país.

Desde a sua construção que a sua monumentalidade, funcionalidade e elegância são uma referência internacional. O Laboratorio tem relevância pela sua beleza, singularidade e pela atmosfera autêntica que proporciona a quem o visita. Por outro lado, o Laboratorio Chimico, no seu conjunto, bem como a articulação dos diferentes espaços e a sua evolução ao longo do tempo, são de grande relevância para a história da química e do seu ensino, particularmente em Portugal. Assim, para além do espaço, que constitui em si mesmo um documento histórico de valor inegável, existe uma extensa documentação arquivística e iconográfica que complementa e intensifica a importância do Laboratorio como fonte para a história da ciência.

É esta integração colecção-espaço-arquivo que torna o Laboratorio particularmente singular, possibilitando inúmeras e frutuosas abordagens, quer para a divulgação da ciência e do ensino da ciência, junto do público em geral, quer para a investigação histórica.



De sublinhar que o Laboratorio conserva uma das mais importantes colecções de química da Europa, possuindo uma colecção de cerca de 10 mil instrumentos científicos dos séculos XVIII, XIX e XX. O fundo antigo, extensivamente documentado por um arquivo muito completo e por uma excelente colecção de catálogos de fabricantes, é constituído pelo equipamento histórico resultante das actividades de ensino e investigação da Escola Politécnica de Lisboa e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Este fundo não se encontra fechado e o Museu tem vindo a enriquecer as suas colecções, quer com equipamento proveniente da Universidade de Lisboa, quer com peças depositadas ou doadas por privados e por instituições científicas portuguesas. O Museu possui igualmente uma pequena mas significativa colecção de arte sacra seiscentista, proveniente da Igreja do Noviciado da Cotovia (1619-1759) e do colégio dos Nobres (1761-1837).



O Laboratorio e o Amphiteatro Chimico passaram por diferentes fases. Antes do incêndio de 1843, que destruiu o antigo edifício do Colégio dos Nobres (1761-1772), o ensino da química na Escola Politécnica era efectuado no mesmo local, num laboratório adaptado a partir do antigo refeitório do Colégio. Na década de 50 do séc. XIX foi construído um Laboratorio Chimico, depois reestruturado profundamente durante a década de 80-90, assumindo uma configuração arquitectónica mais próxima da actual.

No século XIX os laboratórios foram os grandes centros de avanço científico, fontes de orientação para o progresso tecnológico e industrial, suportes da expansão qualitativa na indústria, na agricultura e na medicina. O Laboratorio Chimico da Escola Polytechnica foi considerado, em 1890, um dos melhores da Europa, pelo Professor A.W. von Hoffmann - o fundador dos laboratórios das Universidades de Bona e Berlim.

O ensino experimental obrigatório da Química foi pela primeira vez introduzido na formação de químicos, farmacêuticos, médicos, engenheiros, neste mesmo Laboratorio, por J.J. Bettencourt Rodrigues.

Villa de Milreu | Estoi | Faro




A villa romana de Milreu constitui uma das mais representativas villae romanas do sul de Portugal. Situa-se no sopé da Serra de Monte Figo, perto de Estoi, a cerca de 7 km de Faro - a antiga Ossonoba. De facto, André de Resende, em 1570, atribuiu erradamente às ruínas romanas de Milreu a localização de Ossonoba. Esta falácia foi repetida na bibliografia até 1952, data em que Abel Viana faria irrefutável prova de que a antiga Ossonoba se encontrava sob o edificado do centro histórico de Faro. Entretanto, em 1877, Estácio da Veiga inicia uma extensa campanha de escavações, ainda perseguindo a ideia de uma Ossonoba em Milreu:

«Onde pus à vista a famosa catedral [...] descobri um opulento edifício balneário com 58 compartimentos, casas de habitação, oficinas industriais, arruamentos, canalizações, e nas ombras do Cerro de Guelhim o cemitério da cidade pagã, inteiramente separado dos monumentos e jazigos cristãos que tornearam o majestoso templo, de ordem coríntia, nos seus dois claustros circundantes e até invadirem o âmago da própria catedral». «[...] no plano inferior ao dos pavimentos desses nobilíssimos edifícios recamados de preciosos mosaicos e alicerces dos seus muros marchetados de mármores e pórfiros estavam os assentamentos de outros mais antigos predecessores, que usavam instrumentos de pedra».

Uma grande parte da área escavada por Estácio da Veiga foi logo reenterrada para reutilização agrícola.

Genericamente, trata-se de uma villa de peristilum, conservando o respectivo santuário bem preservado em alçado de tijolos, além de quartos de habitação, compartimentos de prestígio e termas. A leste deste núcleo central (pars urbana), desenvolve-se a área rústica da villa (pars rustica) e os vestígios de dois interessantes edifícios funerários romanos.

Este conjunto arqueológico foi declarado Monumento Nacional em 1932, sendo desde então alvo de escavações sistemáticas e diversas intervenções de consolidação, conservação e restauro, particularmente do conjunto de mosaicos.



Peristilum com colunas e mosaicos representando peixes:




Impressionante edifício religioso sobre podium, conservando muros de tijolo maciço até ao arranque das abóbadas:










Termas apodyterium com bancos e nichos:


Frigidarium com mosaicos figurativos com peixes:





cellarium em dolia:



Outros aspectos:





Edifício rectangular alongado, com 4 pequenos cunhais/torreões cilíndricos providos de frestas para tiro. A actual casa germinou de um pequeno monte erigido no século XV, sobre as ruínas romanas (lagar), sofrendo diversos episódios de remodelação e reconstrução, sendo utilizado até meados do século XX, enquanto casa de habitação e centro de actividade agrícola. Representa o melhor conservado exemplar de arquitectura rural fortificada existente em todo o Algarve.

Esta antiga casa rural serve actualmente de morada a exposições temporárias, nomeadamente de arte contemporânea, tendo agendada para Abril de 2012 a presença de Sara Navarro com um conjunto de esculturas em terracota, no âmbito da investigação A Arqueologia como pretexto para a Escultura.






















De referir um importante conjunto lapidar exumado em Milreu, actualmente repartido entre o Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa, Museu Regional de Lagos e o Museu Municipal de Faro.

Busto em mármore do Imperador Adriano
(Museu Municipal de Faro)

Busto em mármore de Agripina
(Museu Municipal de Faro)

Pedra Moirinha | Portimão


Penedo rudemente afeiçoado, de sienito nefelínico, originalmente proveniente da Serra de Monchique e actualmente assente em terrenos calcários argilosos (miocénicos), em Portimão. A Pedra Moirinha, além dos recorrentes mitos e lendas populares, envolve-se num controverso mistério científico, relativamente ao fenómeno que a mobilizou desde as cumeadas da Serra de Monchique, até ao seu actual destino, na zona poente da cidade da Portimão, a sul da colina da Boa Vista.

Por um lado, a doutrina geológica não parece admitir a ocorrência de fenómenos glaciáricos ibéricos abaixo dos 1600 metros de altitude, o que neste caso inviabiliza o transporte desta grande rocha por via glaciar. Por outro lado, e admitindo tratar-se de uma acção antrópica, sem aparente atribuição funcional, resta-nos uma motivação ritual, um menir enquadrável na cultura mágico-religiosa megalítica. Nesse caso, ainda podem ser levantas duas questões: a singularidade morfológica de um menir de cerca de 20 toneladas e a dificuldade logística do transporte de um megálito desta envergadura, ao longo de cerca de 20 km de terrenos acidentados por elevações, vales e linhas de água.

Posto isto, seja esta "incrível migração" responsabilidade da Natureza ou de autoria humana, tratou-se, sem dúvida, de uma notável empresa, perpetuada, mais não seja, pela própria rocha, orgulhosamente indissolúvel aos tempos, e por um justo topónimo urbano - "o sítio da Pedra Mourinha".