As Estátuas também morrem

Les Statues meurent aussi



Pequena jóia documental realizada em 1953 por Alain Resnai e Chris Marker.
Intitulado As Estátuas também morrem (Les Statues meurent aussi), o filme foi promovido pela revista Presence Africaine e contou com a colaboração de importantes museus europeus da época, designadamente o British Museum, a Maison de L´Homme de Paris e o Museu do Congo Belga.
Reprovando as antinomias do colonialismo europeu sobre África, o filme desenvolve uma interessante reflexão sobre o conceito de Arte, focando-se no etnocentrismo da distinção estabelecida entre a Arte e a Estética ocidentais e dos povos africanos. 
Centrada em si, esta preconceituosa visão eurocêntrica gerou arbitrárias montras culturais, segundo valores culturais europeus, não só alienando os objectos/artefactos do seu contexto, como também as pessoas que os produziram, num verdadeiro processo de “genocídio cultural” – a “estética do alheio”.
Num contexto determinado pela expansão colonial das potencias europeias, a apropriação dos objectos indígenas e a sua descontextualizada, caótica, extravagante, exótica e monstruosa  inclusão em “lojas de horrores”, “gabinetes de curiosidades”, colecções particulares e museus, através dos quais (supostamente) nos apropriamos de passados alheios, acabou por ter um interessante e inverso impacto de “aculturação artística”, da estética africana sobre a vanguarda das artes europeias, revelando uma atracção pelo “Primitivismo”, “Africanismo” e “Arqueologismo”, cumprindo, assim, uma função na mesma medida “depredadora” e “necrológica”, enunciada logo nas primeiras frases do documentário:

Quando os homens estão mortos, entram na historia. Quando as estatuas estão mortas, entram na arte. Esta botânica da morte, é o que nós chamamos A Cultura.

Uma desconcertante reflexão sobre o próprio conceito de Historia “Universal” enquanto discurso unilinear que exclui aquelas outras histórias “que não falam” – as histórias dos “Povos sem Historia” – uma noção declaramente etnocêntrica a que Eric Wolf dedicou o seu livro homónimo Europa e as Gentes sem Historia (1982).

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